REGIMES ALIMENTARES E O DELINEAMENTO DA INSEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL NO BRASIL: RESISTÊNCIAS E CONTRAMOVIMENTOS

Autores

  • Ligia Kochhan de Fraga Instituto Federal do Paraná
  • Miguel Angelo Perondi Universidade Tecnológica Federal do Paraná
  • Alessandra Matte Universidade Tecnológica Federal do Paraná
  • Wilson Itamar Godoy Universidade Tecnológica Federal do Paraná

DOI:

https://doi.org/10.22295/grifos.v32i60.7325

Palavras-chave:

Regimes alimentares. Segurança alimentar e nutricional. Sindemia global. Transição alimentar e nutricional.

Resumo

Sob a perspectiva ideológica neoliberal da globalização e do Estado mínimo, a alimentação, o mercado de terras e as empresas agroalimentares têm sido compreendidas meramente como instrumentos financeiros, impactando negativamente sobre a sustentabilidade do sistema agroalimentar, e consequentemente sobre o meio ambiente e saúde da população, que tem acesso à uma alimentação cada vez mais restrita e monótona. Desde 1870 sucessivos regimes alimentares, intervalando hegemonia britânica e norte americana, vêm definindo os padrões de produção e consumo de alimentos para todo o mundo, ou, ao menos, padrões dominantes. Logo, a interação simultânea entre as pandemias de obesidade, desnutrição e mudanças climáticas evidenciam as principais consequências da defasagem da Segurança Alimentar e Nutricional - SAN percebida globalmente. As redes alimentares alternativas apresentam-se neste contexto como contramovimentos ao modelo de produção e consumo hegemônico. Por fim, a abordagem de diversificação dos meios de vida demonstra-se essencial no desdobramento de estudos acerca do mundo rural, uma vez que a capacidade de diversificação econômica e empreendedora presente na agricultura familiar apresentam amplo potencial de contribuição na compreensão do desenvolvimento rural e regional como um todo.

Biografia do Autor

Miguel Angelo Perondi, Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Professor na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (Brasil) desde 1994. Engenheiro Agrônomo (UFPR), Mestre em Administração (UFLA) e Doutor em Desenvolvimento Rural (UFRGS). Pesquisador visitante do Institute of Development Studies (IDS) da University of Sussex (UK) em 2006. Coordenador do Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Regional da UTFPR entre 2013/15. Bolsista produtividade em Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Fundação Araucária entre 2013/2015. Pós-doutorando no Department of Economics at University of California, Riverside, entre agosto de 2016 e julho de 2017. Editor chefe da Revista de Economia e Sociologia Rural da SOBER no mandato 2017/19 e novamente 2019/21 - revista com conceito Qualis A3 na CAPES. Temas de interesse em pesquisa e orientação: ?Agricultura familiar; Agroindústria familiar; Cadeias curtas de comercialização; Consumo sustentável; Cooperativismo; Diversificação econômica; Estratégias de investimento; Estratégias de superação da pobreza; Desenvolvimento Humano; Avaliação de políticas públicas; Economia Institucional; Sistema agroalimentar; Segurança alimentar e nutricional; História do desenvolvimento local e/ou regional.

Alessandra Matte, Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Professora Adjunta na Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campus Santa Helena/PR. Professora permanente do Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas (PPGSIS). Pós-Doutora em Desenvolvimento Rural (CNPq e CAPES/FAPERGS). Mestra e Doutora em Desenvolvimento Rural pelo Programa de Pós­-Graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com período de saunduíche no Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), tendo a Capes como instituição de fomento (PVE?s - 2014 - 3º cronograma). Bacharel em Zootecnia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Campus Palmeira das Missões. Tem experiência na área de Sociologia Rural, com ênfase em Desenvolvimento Rural, atuando principalmente com as seguintes temáticas de pesquisa: mercados agrícolas e agroindustriais, convenções, sociologia da alimentação, vulnerabilidade, sucessão rural, todos relacionados à pecuária e agricultura. Integrante do Grupo de Estudos e Pesquisas em Agricultura, Alimentação e Desenvolvimento (GEPAD) e do Grupo de Estudos e Pesquisas em Pecuárias (GEPPec). Integrante da Rede LiFLoD (Livestock Farming and Local Development Network).

Wilson Itamar Godoy, Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Professor Associado nível 4, atuando desde 1994 no Curso de Agronomia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Campus Pato Branco. Graduado em Engenharia Agronômica pela UFSM (1981), especializado em Olericultura pela UFV(1990), Mestre em Fitotecnia pela UFRGS (1998) e Doutor em Agronomia pela UFPel (2005). Foi coordenador do curso de graduação em Agronomia da UTFPR e Diretor da DIREC (Diretoria de Relações Empresariais e Comunitárias). Foi Extensionista Rural durante 10 anos, em diversas cidades paranaenses na EMATER-PR(1982-1992). Docente Permanente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR), da UTFPR, na Linha de Pesquisa Regionalidade e Desenvolvimento, no qual pesquisa e orienta no Mestrado e no Doutorado, os seguintes temas: Comunicação Rural, Tecnologias de Informação e Comunicação no rural (TICs), Extensão Rural, Feira-livre, Agricultura Familiar, Educação ambiental, Desenvolvimento Rural Sustentável, Agroecologia e Avaliação da sustentabilidade de Agroecossistemas. Líder do Grupo de Estudo e Pesquisa em Ambiente e Sustentabilidade (GEPAS). Publicou o livro ?As feiras-livres de Pelotas sob o império da globalização: perspectivas e tendências? e diversos outros artigos sobre o assunto. Revisor de periódicos: Revista Brasileira de Agroecologia, Revista Horticultura Brasileira, Ciência Rural, Revista de Economia e Sociologia Rural; Revista Redes, Revista GEPEC e a Revista Desenvolvimento Regional em Debate. Foi Tutor do Grupo PET-Agronomia (UTFPR, Pato Branco) durante 10 anos (ago 2009 / fev 2019). Coordenador de diversos eventos de Extensão Universitária no Sudoeste Paranaense. Atual coordenador do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional do Campus Pato Branco.

Referências

BEZERRA, Islândia; PAULA, Natália F. Sistemas alimentares sustentáveis e saudáveis: diálogos e convergências possíveis. Revista Faz Ciência, [S. l.], v. 23, n. 37, p. 12–33, 2021. DOI: 10.48075/rfc.v23i37.27021.

BRASIL. Lei no 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN com vistas a assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. Diário Oficial da União, 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2006/Lei/L11346.htm Acesso em: 30 dez. 2021.

COCA, Estevan Leopoldo de Freitas; SANTOS, Leonardo Lencioni Mattos; SALVATERRA, José Roberto. Alguns apontamentos para pensar a agricultura e a alimentação no contexto pós-covid-19. Revista NEADS, v. 1, n. 1, 2020.

COLETTI, Vinícius D.; PERONDI, Miguel A. Produção de leite e resistência da agricultura familiar: comparando duas estratégias de comercialização local na Região Sudoeste do Paraná – Brasil. Redes (St. Cruz Sul, Online), v. 20, nº 2, p. 236 - 260, maio/ago. 2015.

CRUZ, M. S.; RIBEIRO, E. M.; PERONDI, M. A.; ARAUJO, A. M.; MALTEZ, M. A. P. F. Comprando qualidade: costume, gosto e reciprocidade nas feiras livres do Vale do Jequitinhonha. Revista de Economia e Sociologia Rural, 60(spe), 2022. e245926. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1806-9479.2021.245926 Acesso em 24 jan.2022.

DEMETRIO, Milena ; TERNOSKI, Simão ; GAZOLLA, Marcio . Percepções sobre o empoderamento socioeconômico e psicossocial de agricultoras participantes de cadeias curtas alimentares. Revista Grifos, v. 30, p. 30-52, 2021.

DIXON, Jane. From the imperial to the empty calorie: how nutrition relations underpin food regime transitions. Agriculture and Human Values, 26(4), 321–333, 2009. Disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs10460-009-9217-6 Acesso em 26 jan. 2022.

Friedmann, Harriet. Family farms and international food regimes. In Shanin, T. (ed): Peasants and peasant societies. Oxford: Blackwell, 247-58.1987.

______. Feeding the empire: the pathologies of globalized agriculture. Socialist Register, p. 124 – 143, 2005.

FRIEDMANN, Harriet; McMICHAEL, Philip. Agriculture and the state system: The rise and decline of national agricultures, 1870 to the presente. Sociologia Ruralis, v. 29, n. 2, p. 93-117. Agosto. 1989.

GOODMAN, D. The quality ‘turn’ and alternative food practices: reflections and agenda. Journal of Rural Studies, v. 19, p.1-7, 2003. DOI: https://doi.org/10.1016/S0743-0167(02)00043-8

KEPLLE, Anne W.; SEGALL-CORRÊA, Ana M. Conceituando e medindo segurança alimentar e nutricional. Ciência & Saúde Coletiva, 16(1):187-199, 2011. Disponível em: https://www.scielosp.org/pdf/csc/2011.v16n1/187-199/pt Acesso em: 12 jan. 2022.

LEÃO, Marília. O direito humano à alimentação adequada e o sistema nacional de segurança alimentar e nutricional /organizadora, Marília Leão. Brasília: ABRANDH, 2013.

MALUF, Renato S.; REIS, Márcio C. dos. Conceitos e princípios de segurança alimentar e nutricional. In: ROCHA, Cecília (org.). Segurança alimentar e nutricional: perspectivas, aprendizados e desafios para as políticas públicas. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2013.

MALUF, Renato Sergio; BURLANDY, Luciene. Sistemas alimentares, desigualdades e saúde no Brasil: desafios para a transição rumo à sustentabilidade e promoção da alimentação adequada e saudável. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, 2022. 35 p. (Série Saúde Amanhã). Textos para Discussão 81.

McMICHAEL, Philip. A food regime genealogy. Journal of Peasant Studies, v. 36, n. 1, p. 139-169, 2009. Disponível em: https://doi.org/10.1080/03066150902820354 Acesso em 12 dez. 2021.

MUNÕZ, Estevan; NIEDERLE, Paulo A. Críticas cívicas ao regime alimentar corporativo: mercados para alimentos agroecológicos da reforma agrária em Porto Alegre – RS. Geo UERJ, Rio de Janeiro, n. 33, e, 33779, 2018 | doi: 10.12957/geouerj.2018.33779

NIEDERLE, Paulo A. A pluralist and pragmatist critique of food regime’s genealogy: varieties of social orders in Brazilian agriculture, The Journal of Peasant Studies, 2017. DOI: 10.1080/03066150.2017.1313238.

PERONDI, Miguel. A.; SCHNEIDER, Sergio. Bases teóricas da abordagem de diversificação dos meios de vida. Revista Redes, Vol. 17, n. 2, 2012.

PLOEG, J. D. Van der. Camponeses e impérios alimentares: lutas por autonomia e sustentabilidade na era da globalização. Porto Alegre: Ed. da UFRGS, 2008. 372 p. (Estudos Rurais).

_______. Dez qualidades da agricultura familiar. Revista agriculturas, n. 1. Fev 2014.

PORTILHO, Fátima; CASTAÑEDA, Marcelo; CASTRO, Inês Rugani Ribeiro de. A alimentação no contexto contemporâneo: consumo, ação política e sustentabilidade. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2011, v. 16, n. 1, pp. 99-106. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-81232011000100014 Acesso em 20 jan. 2022.

SCHNEIDER, Sérgio; SCHUBERT, Maycon; ESCHER, Fabiano. Regimes agroalimentares e o lugar da agricultura familiar: uma apresentação ao debate. Revista Mundi Meio Ambiente e Agrárias. Curitiba, PR, v.1, n.1, 3, jan./jun, 2016.

SCHNEIDER, S.; CRUZ, F. T.; MATTE, A. Estratégias alimentares e de abastecimento: desafios e oportunidades para as cidades e para o meio rural. In: CRUZ, F.T.; MATTE, A.; SCHNEIDER, S. (Org.). Produção, consumo e abastecimento de alimentos: desafios e novas estratégias. 1ed.Porto Alegre: Editora da UFRGS (Série Estudos Rurais), 2016. p. 9-22.

Downloads

Publicado

2023-01-26

Edição

Seção

Dossiê: As Transformações e as Novas Din. no Mundo Rural Rumo ao Desen. Sust.