Ansiedade e depressão em alta durante a pandemia preocupa psicólogos e psiquiatras

Por Luana Poletto*

A pesquisa contou com 13.263 participantes. Dos 1.500 respondentes brasileiros maiores de 18 anos, 63% apresentaram relatos de ansiedade e 59% sintomas de depressão.
Foto: Rubens Cavallari/Folhapress (Folha de São Paulo) 

A pandemia fez hábitos e rotinas serem alterados radicalmente. Exemplo disso ocorre em escolas e universidades, que há mais de um ano estão com aulas remotas. Com contato social limitado e opções de lazer e atividades restringidas, tem sido cada vez mais frequentes os relatos de aumento de casos de ansiedade e de depressão por psicólogos e psiquiatras.

Uma pesquisa global recente liderada pela Universidade Estadual de Ohio (EUA) levou em conta dados de 11 países e revelou que o Brasil ocupa a dianteira  absoluta no número de casos de depressão e ansiedade durante a pandemia de  covid-19, acima de nações como Estados Unidos e Irlanda. O isolamento social, a  falta de alternativas de lazer e problemas financeiros teriam sido alguns dos  principais fatores que contribuíram para a elevada quantidade de casos,  especialmente entre os jovens. Eles, além de mulheres, pessoas com histórico de  distúrbios psicológicos e desempregados, são alguns dos grupos que mais  relataram sofrer com os problemas. 

A ansiedade é um estado normal e útil, que deixa as pessoas atentas a perigos iminentes, como a dor e o medo, observa a psicóloga Larissa D’Maiella Akkari Klimeck Kammer. “O estado ansioso é uma defesa que nos alerta de que algo não vai bem”, destaca.

Porém, a ansiedade passa a ser um problema, quando gera  sofrimento intenso. Entre os sintomas estão falta de ar, coração acelerado, suor excessivo, tremores, aceleração do pensamento, insônia, aumento ou diminuição de apetite. “Tudo isso invade a vida da pessoa e a mantém nesse estado de uma forma muito contínua ou por meio de crises mais fortes. A ansiedade se manifesta de forma emblemática no nosso corpo e ela está muito ligada a uma preocupação com o futuro”, comenta.  

A pandemia pode ter contribuído nos casos de ansiedade, é o que relata Larissa. De acordo com ela, durante esse período, os casos aumentaram ou se intensificaram, em função das incertezas, do medo do vírus e suas sequelas. “Somos seres que nascemos no grupo e vivemos em grupo, não somos isolados. Este lugar de isolar-se em casa por segurança, para garantir a sua saúde, traz também a tristeza”, ela destaca. Outro fator é a questão econômica juntamente com um quadro político instável. “Tudo isso é uma grande somatória de fatores ansiogênicos. Esse quadro é de muita instabilidade e insegurança, e é um terreno fértil para crises ansiosas ou para um agravamento nos casos de quem já tinha contato com a ansiedade de alguma forma ou já se sentia uma pessoa ansiosa, então pode ser um grande disparador”, Larissa salienta.

O estudante de Jornalismo Rafael Chiamenti Pedroso conta que se sentia  perdido e sem saber o que estava acontecendo quando as crises começaram. “Eu fui diagnosticado em 2018 e naquele ano tive as crises mais pesadas. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, ou eu tinha muita ou pouca fome, e não conseguia dormir. Esses picos de intensidade me fizeram buscar ajuda profissional. Primeiramente eu conversei com um médico, clínico geral, que me prescreveu tarja preta, o que foi equivocado da parte dele. Depois de passar pela psicóloga ela retirou essa prescrição e me mandou continuar com o que me fazia bem”, destaca. 

Chiamenti ainda comenta que durante a pandemia, por ficar mais em casa em um relacionamento familiar, sentiu-se tranquilo ao entender que não tinha contato com o vírus, e portanto, não teve crises fortes. Porém, teve um período que ele relata ter passado muito tempo no quarto para trabalhar e a noite estudar. “Com isso fui me sentindo sufocado, e volta e meia começava a dar umas crises. Então eu saía para fora de casa, ia respirar. Tentava me desligar o máximo possível dos meios eletrônicos. Depois que a rotina de trabalho voltou a ser presencial, com todos os cuidados, passei a ter um contato maior com pessoas, essa era outra coisa que eu sentia muita falta”, ressalta. 

Como tratar a ansiedade

Alguns cuidados que podem contribuir para a ansiedade é a meditação e a concentração na respiração. Se você ou alguém próximo se encontra em uma situação de sofrimento, com crises contínuas, é preciso buscar ajuda profissional. A automedicação não é aconselhada e pode ser perigosa.
Nesses casos, é importante buscar inicialmente um psiquiatra para fazer o diagnóstico e a prescrição de remédios, e ainda procurar uma psicóloga para fazer as terapias, observa a psicóloga.

“O maior lugar de autocuidado é buscar esse tratamento. Existem caminhos para que a vida não seja um lugar tão pesado, para que haja leveza e equilíbrio. É preciso ficar atento aos sintomas e suas persistências. Se perceba e busque ajuda.”

(*) Com orientação do professor Hygino Vasconcellos

Podcast Empatia: https://soundcloud.com/user-759845486/podcast-empatia

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