Perfis: quem faz a Feira do Livro

Estudantes do 5o período de Jornalismo, na disciplina de Escolas de Texto Jornalístico, ministrada pela professora Angélica Lüersen, produziram perfis de pessoas que fazem a Feira do Livro Chapecó acontecer. Confira.

O protetor da Feira do Livro

Por Angélica Albuquerque

Em noite de céu sem estrelas, iniciava mais um período de Feira do Livro. Na entrada do Centro de Eventos, um senhor de jeito risonho captura meu olhar no meio da multidão. Vestido com um casaco vermelho por cima de roupas cinzas, ele segura um rádio em sua mão direita. Nas costas do seu casaco, a inscrição “brigadista”, traz o significado de sua presença ali.

Ao me aproximar, pergunto sobre sua importância no evento, o homem de estatura modesta prontamente responde, revelando que sua presença -assim como a de seus colegas-, não apenas era obrigatória, mas também fundamental para o acontecimento do evento.

Ao responder às minhas perguntas, o brigadista demonstrou comprometimento em suas palavras, e compartilha que, embora não tenha havido muitos incidentes até então, sua presença preventiva o colocava em posição de agir como um herói, pronto para ajudar aqueles que precisassem de auxílio. 

A presença do brigadista e de sua equipe traz segurança para quem participa do evento, embora ninguém queira que algo aconteça, saber que existe uma equipe capacitada para atender, conforta quem passeia pelos stands. 

Essa dedicação protetora transparece em suas palavras, mostrando o quanto ele valoriza seu papel como guardião da segurança e bem-estar dos visitantes da feira.

Elizeu pinta borboletas com asas para um mundo

Por Gabriela Pinheiro 

Encontrei Elizeu no meio da multidão da Feira do Livro, com as mãos brilhantes de glitter, desenhando uma borboleta no rosto de uma garotinha de uns 5 anos de idade. Assim, tive a certeza de que era ele que eu precisaria ouvir naquela noite quente de outono. Com toda a delicadeza, ele deslizava o pincel sobre o rosto corado da pequena e conversava sobre o que ela havia feito durante o dia. 

O aluno do curso de Pedagogia parecia ter escolhido a graduação certa. Quando perguntei o motivo pelo qual a escolheu, percebi um largo sorriso se abrir. Foi quando me falou com paixão: “Eu nasci para ser professor”. Segundo ele, quando está na companhia das crianças, o jovem Elizeu de 23 anos de idade se transforma no professor Elizeu, que acolhe, ensina e aprende. 

Elizeu me contou que já é a terceira Feira do Livro que participa, mas a primeira como desenhista de pequenos rostinhos curiosos. Com olhos mais brilhantes que seu piercing na sobrancelha, ele contou o quanto a feira pode ser mágica, principalmente para crianças na idade infantil. Segundo ele, o ambiente tem o poder de fazer os pequenos viajarem na imaginação e exercitarem a criatividade de forma única. 

Com uma música sertaneja tocando ao fundo da nossa conversa, entre livros e pincéis sujos de tinta, pude perceber o amor em cada uma das palavras do futuro professor. Naquele espaço, através da leitura, não são só as crianças que sentem segurança para escapar do caos do mundo. Elizeu também.

Passarinho fora do ninho? 

Por Carla Cenci

Encontros nunca acontecem por acaso. Seja de um olhar na porta de entrada que se transformou em memória até o contato verbal entre dois seres. Sim, foi de minha chegada a feira até a mudança de vida da jovem segurança. Quatro anos resumidos por ela em cinco minutos, que por mim, até então, eram desconhecidos. De uma voz forte e vibrante senti a presença da diversidade brasileira. Me apresentei e hesitei pedir seu nome no início, pois gostaria de imagina-ló com o decorrer de sua história. Devido a sua função a chamo de guardiã, com a certeza de que alguém a protegia. E eu estava certa. Suas expressões faciais sérias confirmaram as palavras principais pronunciadas: Responsabilidade, honra e proteção. Nós duas no centro do corredor e uma multidão de pessoas ao transitar em nosso lado. O breve sorriso ao falar de sua relação com a leitura mostrou-me um pedaço de seu sentimento. Todos os dias, sem exceção, a leitura da Bíblia a acompanhava. “Eu adoro”, afirmou. Há quatro anos a guardiã tornou-se chapecoense. Para cá, seu filho e marido a acompanharam. Mencionava em praticamente todas as frases sua crença que confirmava a fé presente. Sua sobrancelha direita erguia levemente após isso, entendia por mim como um pequeno ato de carisma. Para ela, a leitura acontecia  na calmaria dos finais da tarde. Sobre a mesa carregava a certeza do bem estar e o estudo sobre os textos. De jaqueta preta sobreposta de sua camisa branca, a jovem mencionou “Provérbios”, que é um dos livros escritos na Bíblia, como o seu texto principal. De fato, a mudança do Norte para o Sul do Brasil não foi fácil, mas alguma força superior a acompanhava e fez as escolhas da profissional darem certo. Ela construiu seu novo ninho em nosso cidade, como a mesma retratou. Muitas foram as dúvidas e dificuldades sanadas através da leitura e de sua fé. Deus certo. De braços cruzados por boa parte de nossa conversa, ela esticou sua mão direita em minha direção para um cumprimento de despedida. Gostaria muito que seu nome fosse Maria, pela identificação com a religião. Mas, não. Foi quase.

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