Produção: Thaís Dutra | Supervisão: Eliane Taffarel
Com apenas 16 anos, a adolescente Juno engravida de seu colega de aula. O que era para ser apenas uma tarde de divertimento entre dois amigos, se tornou um grande problema para a menina, que se julga incapaz de lidar sozinha com a situação. Imatura para ser mãe, mas consciente de sua responsabilidade elimina logo de cara a possibilidade de um aborto. A jovem decide enfrentar a situação de frente e dar um belo futuro ao seu filho. Este é o enredo de um filme, mas poderia ser a realidade de uma jovem ao nosso redor. A arte imita a vida. O que vemos na ficção, muitas vezes, se transporta para a vida real. Mas nem sempre se tem um final feliz como no filme Juno, citado acima, onde a jovem tem total apoio do pai e da madrasta possibilitando um desfecho positivo.
O tema sexo na adolescência ainda causa desconforto e o assunto é geralmente abordado como um tabu pela família, escola e sociedade em geral. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), nascem, por ano, em nosso país mais de 430 mil bebês de mães adolescentes. O índice de gravidez na adolescência, no Brasil, está acima da média mundial. A taxa de fecundidade em meninas brasileiras entre 15 e 19 anos é de 62 a cada mil bebês nascidos vivos, acima da média mundial que é de 44 para cada mil.
A gravidez na adolescência é considerada um problema de saúde pública, pois implica em várias consequências no âmbito moral, social, psicológico, além de riscos para a saúde da jovem. Outros aspectos devem ser levados em conta no cenário de uma gravidez precoce como, por exemplo, o aumento da possibilidade de um aborto natural, nascimento prematuro, evasão escolar, mortalidade materna, poucas oportunidades no mercado de trabalho, entre outros.
Para a ginecologista e obstetra Patrícia Oliveira, que atua no sistema privado de saúde em Chapecó, entre os motivos de uma gravidez precoce está o esquecimento do uso do anticoncepcional oral e a recusa por parte do menino no uso da camisinha. Ressalta, também, que as adolescentes grávidas atendidas por ela tiveram acesso à informação e à métodos contraceptivos. “No subconsciente, o adolescente acha que não vai acontecer nada”, comenta Patrícia. A médica complementa dizendo que “o sexo é um direito de todos desde que a adolescente tenha consciência do ato e desde que não se trate de uma relação manipulada ou forçada”. No Brasil, de acordo com o Código Penal Brasileiro e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), qualquer ato sexual envolvendo menores de 14 anos é considerado uma violência sexual.
Sexo Seguro
Em alguns casos a jovem romantiza sua primeira vez achando ter encontrado o príncipe encantado. Por isso, é importante abordar educação sexual nas escolas, principalmente como um enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes. Debater o tema traz segurança às meninas durante o ato sexual reforçando a autonomia e protagonismo do jovem na iniciação da vida sexual. “O conhecimento gera empoderamento feminino, principalmente, na exigência do uso do preservativo por parte dos namorados e para evitar o machismo ainda muito impregnado na sociedade. Os meninos também precisam ter consciência de uma paternidade responsável”, afirma Roseli Malacarne Santander, representante do Grupo de Apoio de Prevenção à Aids – GAPA, de Chapecó.
Para a psicóloga Karine Lusa, a escola é uma grande aliada no processo de educação sexual por atuar, primeiramente, como um espaço de acolhimento das dúvidas e posteriormente com orientação. Na prática do consultório é percebido que “os pais ignoram a sexualidade do adolescente acreditando que assim irão evitar o sexo, mas contrário a isso, os jovens aventuram-se sexualmente por falta de informação”, esclarece a psicóloga.
A educação sexual, ao contrário do que muitos pais pensam, não serve para estimular a iniciação sexual e, sim como ferramenta eficaz na prevenção de doenças e importante dispositivo para reconhecimento de violência sexual ocorrida, muitas vezes, dentro de casa, esclarece Maitê Sordi, professora de Ciências e Biologia da rede pública e privada de Chapecó. “O objetivo principal da educação sexual nas escolas é reforçar o conhecimento sobre infecções sexualmente transmissíveis (IST’s), evitar a gravidez precoce e identificar situações de abuso sexual”, complementa Maitê.
A Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) salienta em seus documentos oficiais, que atividades relacionadas à sexualidade e o ensino de gênero nas escolas é fundamental para que homens e mulheres, meninos e meninas tenham os mesmos direitos e para prevenir qualquer tipo de violência.
Escola é lugar para falar de sexo sim!
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevê a abordagem de temas relacionados à reprodução e à sexualidade nos anos finais do ensino fundamental. De acordo com Mary Neide Figueiró, psicóloga e doutora em educação pela UNESP, “a partir do 7º ano é preciso conversar sobre o impacto da puberdade no corpo do adolescente para desenvolver responsabilidade e consciência para a proteção de doenças e gravidez”. No Brasil, foi instituída pela Lei nº 13.798/19, a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, que acontece na primeira semana de fevereiro através de campanha de conscientização sobre medidas preventivas e educativas.
O antigo ditado “é melhor prevenir do que remediar” ainda está na moda e segundo educadores, o diálogo ainda é a melhor prevenção. Em contextos de extrema vulnerabilidade e precariedade social a melhor alternativa é a informação. Ações de promoção, proteção, prevenção e atenção à saúde para o enfrentamento de fragilidades que comprometam a vida de jovens é um desafio na sociedade moderna. De acordo com a enfermeira Rosane Azambuja, coordenadora do Centro de Saúde da Família do distrito de Marechal Bormann, “a saúde sexual e reprodutiva é bem complexa na escola e os pais são, na maioria, contrários ao debate. Percebe-se que os jovens que possuem conhecimento demoram mais para a iniciação sexual”.
O papel que a educação desempenha para a saúde sexual dos jovens gera autonomia e o exercício de uma vida sexual segura. “Uma criança que entende o que é sexo está mais preparada para não ser vítima do abuso sexual”, reforça Mary Neide Figueiró.