CERTIFICAÇÃO ORGÂNICA, A PARTIR DA REPRODUÇÃO DE PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS, PROMOVIDAS POR AGRICULTORES FAMILIARES NO AMAPÁ

Autores

  • Ana Karolina Lima Pedrada UFPA
  • Oriana Trindade de Almeida UFPA

DOI:

https://doi.org/10.22295/grifos.v32i60.7288

Palavras-chave:

Sociobiodiversidade. Produção agroecológica. Produção orgânica. Amazônia.

Resumo

Os agricultores familiares do estado do Amapá produzem e reproduzem práticas agroecológicas, a partir de conhecimentos tradicionais, promovendo a sustentabilidade e a sociobiodiversidade, indicando, por este motivo, que a transição para a certificação orgânica seja mais factível. Esse trabalho tem o objetivo de realizar um prognóstico da perspectiva de certificação orgânica, a partir da identificação de práticas agroecológicas, promovidas pelos agricultores familiares do estado. A pesquisa se limitou a estudar as comunidades agrícolas concentradas nas margens do município de Macapá, pelo seu destaque e interesse na reprodução destas práticas. As metodologias da pesquisa foram a qualitativa e a quantitativa, e foram utilizados, como métodos e técnicas, a análise descritiva, a partir de dados do Censo Agropecuário de 2017, as imersões de campo e as entrevistas. Os resultados mostraram que 59,8% dos agricultores familiares promovem algum tipo de prática agroecológica, como rotação de culturas e/ou pousio, e 85% deles não usa agrotóxicos em sua produção. Os gargalos encontrados na certificação orgânica foram: aquisição de sementes e de mudas; documentação de processos; acesso à assistência técnica especializada; e adequação às normas sanitárias. A pesquisa concluiu que a certificação orgânica é viável e necessária para a realidade rural familiar do estado, mas que esta precisa ser amparada por assistência técnica e extensão rurais, para a adequação à regulamentação. Sem este tipo de apoio, esses gargalos poderão representar sérios entraves ao processo de regularização da produção orgânica informal local.

Referências

ABREU, L. S. et al. Relações entre agricultura orgânica e agroecologia: desafios atuais em torno dos princípios da agroecologia. Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 26, p. 143–160, 2012.

ALMEIDA, E.; PETERSEN, P.; SILVA, F. J. P. Lidando com extremos climáticos: análise comparativa entre lavouras convencionais e em transição ecológica no Planalto Norte de Santa Catarina. Agriculturas, v. 6, n. 1, p. 28–33, 2009.

ALTIERI, M. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 4. ed. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2004.

ALTIERI, M. A. Agroecology: The science of natural resource management for poor farmers in marginal environments. Agriculture, Ecosystems and Environment, v. 93, n. 1–3, p. 1–24, 2002.

ALTIERI, M. A. Agroecologia, agricultura camponesa e soberania alimentar. Revista Nera, v. 13, n. 16, p. 22–32, 2010.

ANVISA, A. N. V. S. Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos - PARA. Relatório das amostras analisadas no período de 2017-2018: primeiro ciclo do Plano Plurianual 2017-2020. [Brasília]: ANVISA, 2020.

ASSIS, R. L.; ROMEIRO, A. R. Agroecologia e agricultura orgânica: controvérsias e tendências. Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 6, n. 21, p. 67–80, 2002.

BATISTA, C. L. R.; STOFFEL, J. Agroecologia e produção orgânica: características que distinguem e/ou aproximam os sistemas de produção sustentáveis. Revista do Desenvolvimento Regional - FACCAT, v. 19, n. esp. SOBER, p. 25–49, 2022.

BECKER, C. et al. Processo de regularização da produção orgânica pelos agricultores familiares: um estudo de caso sobre o OCS – Santana do Livramento, RS. Navus - Revista de Gestão e Tecnologia, v. 10, p. 1–11, 2020.

BENVEGNÚ, V. C.; RADOMSKY, G. Entre o sucesso e o fracasso: desenvolvimento, sementes crioulas e transgênicas. Novos Cadernos NAEA, v. 23, n. 1, p. 171–193, 2020.

BRASIL. Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos. Brasília, 2022. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/assuntos/sustentabilidade/organicos/cadastro-nacional-produtores-organicos. Acesso em: 24 abr. 2022.

BRASIL. Informações Técnicas: Registros Concedidos Agrotóxicos. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-agricolas/agrotoxicos/informacoes-tecnicas. Acesso em: 24 abr. 2022.

BRASIL. Lei nº 10.831, de 23 de dezembro de 2003. Dispõe sobre a agricultura orgânica e dá outras providências. [Brasília]: [s. n.], 2003.

BRASIL. Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2018.

CAPORAL, F. R. Agroecologia: uma nova ciência para apoiar a transição a agricultura mais sustentáveis. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2009.

CAPORAL, F. R. et al. Extensão rural e agroecológica: temas sobre um novo desenvolvimento rural, necessário e possível. 1. ed. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2009.

CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Análise Multidimensional da Sustentabilidade Uma proposta metodológica a partir da Agroecologia. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, v. 3, n. 3, p. 70–85, 2002.

CAPORAL, F. R.; COSTABEBER, J. A. Agroecologia e desenvolvimento rural sustentável: perspectivas para uma nova Extensão Rural. Agroecologia e Extenção Rural: contribuições para a promoção do desenvolvimento rural sustentável, p. 166, 2004.

CAUCHICK-MIGUEL, P. A. Metodologia de Pesquisa em Engenharia de Produção e Gestão de Operações. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.

COSTA, T. E. M. M. et al. Avaliação de risco dos organismos geneticamente modificados. Ciência & Saúde Coletiva, v. 16, n. 1, p. 327–336, 2011.

COSTABEBER, J. A.; ESTRADA, E. M. Transição Agroecológica e ação social coletiva. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, v. 1, n. 4, p. 1–13, 2000.

DEGGERONE, Z. A.; SCHNEIDER, S. O processo de mercantilização da agricultura familiar no Alto Uruguai-RS. Revista Grifos, v. 31, n. 56, p. 7–34, 2022.

DUTRA, R. M. S.; SOUZA, M. M. O. DE. Impactos negativos do uso de agrotóxicos à saúde humana. Hygeia, v. 13, n. 24, p. 127–140, jun. 2017.

EDUARDO, P.; MARQUES, M. Organização de Controle Social (OCS) e engajamento agroecológico das famílias do assentamento Milton Santos no estado de São Paulo. Estudos Sociedade e Agrcultura, v. 25, n. 3, p. 545–560, 2017.

FELÍCIO, M. J. Os camponeses, os agricultores familiares: paradigmas em questão. Geografia, v. 15, n. 1, p. 205–219, 2006.

FERNANDES, B. M. Agricultura camponesa e/ou agricultura familiar. In: XIII ENCONTRO NACIONAL DE GEÓGRAFOS. Anais [...] João Pessoa: AGB, 2002.

FERNANDES, B. M.; RAMALHO, C. B. Luta pela terra e desenvolvimento rural no Pontal do Paranapanema (SP). Estudos Avançados, v. 15, n. 43, p. 239–254, 2001.

FINATTO, R. A. Redes de agroecologia e produção orgânica na região Sul do Brasil. Reega, o espaço geográfico em análise, v. 38, p. 107–145, 2016.

FRANCIS, C. et al. Agroecology: The ecology of food systems. Journal of Sustainable Agriculture, v. 22, n. 3, p. 99–118, 2003.

GASKELL, G. Entrevistas individuais e grupais. In: BAUER, M. W.; GASKELL, G. (Eds.). Pesquisa qualitativa contexto, imagem e som: um manual prático. 7. ed. Petrópolis: Vozes, 2008. p. 64–89.

GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

GLIESSMAN, S. R. Transforming food systems with agroecology. Agroecology and Sustainable Food Systems, v. 40, n. 3, p. 187–189, 2016.

GLIESSMAN, S. R. et al. Agroecología: promoviendo una transición hacia la sostenibilidad. ECOSISTEMAS Revista Científica Y Técnica de Ecología y Medio Ambiente, v. 16, n. 1, p. 13–23, 2007.

GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: processos ecológicos em Agricultura sustentável. 4. ed. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2008.

GRANJEIA, J. Alimento orgânico ou agroecológico? Entenda a diferença entre modos de produção. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2018/05/03/alimento-organico-ou-agroecologico-entenda-a-diferenca-entre-os-modos-de-producao. Acesso em: 23 jun. 2020.

IBGE. Censo agropecuário 2006: resultados definitivos. Rio de Janeiro: IBGE, 2006.

IBGE. Censo agropecuário 2017: resultados definitivos. Rio de Janeiro: IBGE, 2019.

LIMA, L. G. A monopolização das sementes pelo capital e a contaminação por transgênicos no semiárido de Alagoas. Germinal: Marxismo e Educação em Debate, v. 13, n. 2, p. 271–293, 17 set. 2021.

LOURENÇO, A. V.; SCHNEIDER, S.; GAZOLLA, M. A agricultura orgânica no Brasil: um perfil a partir do censo agropecuário 2006. Extensão Rural (CCR) - UFSM, v. 24, n. 1, p. 42–61, 2017.

MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Fundamentos de Metodologia Científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2011.

MATTEI, T. F.; MICHELLON, E. Panorama da agricultura orgânica e dos agrotóxicos no Brasil: uma análise a partir dos censos 2006 e 2017. Revista de Economia e Sociologia Rural (RESR), v. 59, n. 4, p. 1–23, 2021.

MATTOS, L. Caminhos para a Transição agroecológica e a manutenção de reserva legal na agricultura familiar na Amazônia. In: AZEVEDO, A. A.; CAMPANILI, M.; PEREIRA, C. (Eds.). Caminhos para uma Agricultura Familiar sob Bases Ecológicas: produzindo com baixa emissão de carbono. [s. l.]: Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, 2015. p. 217.

MATTOS, L. et al. Agricultura de pequena escala e suas implicações na transição agroecológica da Amazônia brasileira. Amazônica, v. 2, p. 264–292, dez. 2010.

MEIRELLES, L. Produção e comercialização de hortaliças orgânicas. Revista da Sociedade de Olericultura do Brasil, v. 15, n. sup., 1997.

NIEDERLE, P. et al. Ruptures in the agroecological transitions: institutional change and policy dismantling in Brazil. Journal of Peasant Studies, n. May, p. 1–24, May 2022.

NODA, H.; NODA, S. N. Agricultura familiar tradicional e conservação da sócio-biodiversidade amazônica. Revista Internacional de Desenvolvimento Local, v. 4, n. 6, p. 55–66, 2003.

NORDER, L. A. et al. Agroecologia. Polissemia, pluralismo e controvérsias. Ambiente & Sociedade, v. 19, n. 3, p. 1–20, 2016.

PENTEADO, S. R. Certificação agrícola: orientações e normas para a transição ecológica e orgânica. 2. ed. Campinas: Edição do autor, 2010.

PEREZ-CASSARINO, J. Agroecologia e mercados locais: o caminho através da economia solidária. In: KUSTER, A.; MARTÍ, J. F. (Eds.). Agricultura familiar, agroecologia e mercado no Norte e Nordeste do Brasil. 1. ed. Fortaleza: Fundação Konrad Adenauer, 2004. p. 236.

PERON, C. C. et al. Produção orgânica: uma estratégia sustentável para a agricultura familiar. Retratos de Assentamentos, v. 21, n. 2, p. 104–128, 2018.

PETERSEN, P.; WEID, J. M. v. d.; FERNANDES, G. B. Agroecologia: reconciliando agricultura e natureza. Informe Agropecuário, v. 30, n. 252, p. 1–9, 2009.

PLOEG, J. D. v. d. O modo de produção camponês revisitado. In: SCHNEIDER, S. (Ed.). A diversidade da agricultura familiar. Porto Alegre: Ed. UFRGS, 2009. p. 15–56.

ROSSET, P.; ALTIERI, M. Agroeocolía: ciencia y política. 3. ed. Riobamba: SOCLA, 2018.

SAMBUICH, R. H. R. et al. Análise da construção da política nacional de agroecologia e produção orgânica no Brasil. Rio de Janeiro: IPEA, 2017.

SAMPIERI, R. H.; COLLADO, C. F.; LUCIO, M. P. Metodologia da Pesquisa. 5. ed. Porto Alegre: Penso, 2013.

SCARABELI, V.; MANÇANO, B. F. O debate paradigmático em torno da insegurança alimentar com base nos conceitos de segurança alimentar, soberania alimentar e agroecologia. Geografia: Ambiente, Educação e Sociedades, v. 2, n. 1, p. 35–52, 2020.

SEDIYAMA, M. A. N.; SANTOS, I. C.; LIMA, P. C. Cultivo de hortaliças no sistema orgânico. Revista Ceres, v. 61, n. sup., p. 829–837, 2014.

SENA, A. O. V. et al. Agroecologia e produção orgânica na agricultura familiar no território extremo sul da Bahia. Revista Fitos, v. 13, n. 1, p. 15, 2019.

SEVILLA-GUZMÁN, E. Agroecologia e desenvolvimento rural sustentável. In: AQUINO, A. M.; ASSIS, R. L. (Eds.). Agroecologia: princípios e técnicas para uma agricultura orgânica sustentável. Brasília: Independente, 2005. v. 1, p. 1689–1699.

SEVILLA-GUZMÁN, E. La participación en la construcción histórica latinoamericana de la Agroecología y sus niveles de territorialidad. Política y sociedad, v. 52, n. 2, p. 351–370, 2015.

SEVILLA-GUZMÁN, E.; MONTIEL, M. S. Del desarrollo rural a la agroecología. Hacia un cambio de paradigma. Documentación Social, p. 25–41, 2012.

SILVA, M. Z. T. A segurança e a soberania alimentares: conceitos e possibilidades de combate à fome no Brasil. Configurações, n. 25, p. 97–111, 12 jun. 2020.

TROVATTO, C. M. M. et al. A construção da Política Nacional de Agroecologia e produção Orgânica: um olhar sobre a gestão do primeiro Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica. In: SAMBUICHI, R. H. R. et al. (Eds.). A política nacional de agroecologia e produção orgânica no Brasil: uma trajetória de luta pelo desenvolvimento rural sustentável. Brasília: Gráfica Color, 2017. p. 87–113.

WEZEL, A. et al. Agroecology as a science, a movement and a practice. Sustainable Agriculture, v. 2, p. 27–43, 2009.

WEZEL, A.; SOLDAT, V. A quantitative and qualitative historical analysis of the scientific discipline of agroecology. International Journal of Agricultural Sustainability, v. 7, n. 1, p. 3–18, 2009.

WILLER, H. et al. The world of organic agriculture: Statistics & Emerginf Trends 2021. 1. ed. Bonn: FiBL; IFOAM, 2022.

WUTKE, E. B. et al. Bancos comunitários de sementes de adubos verdes: informações técnicas. Brasíli: MAPA, 2007. p. 52.

Downloads

Publicado

2023-01-26

Edição

Seção

Dossiê: Agroecologia, Sustentabilidade e Desenvolvimento Rural