O PROCESSO DE MERCANTILIZAÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO ALTO URUGUAI-RS
DOI:
https://doi.org/10.22295/grifos.v31i56.6596Palavras-chave:
agricultores familiares, Estado, mercantilização, políticas públicas, produtores simples de mercadoriasResumo
Este artigo tem por objetivo apresentar alguns elementos sócio-históricos que exerceram influência no processo de mercantilização dos agricultores familiares na região Alto Uruguai-RS. O estudo desenvolveu uma abordagem qualiquantitativa, tendo sido realizada uma análise descritiva de dados primários, coletados a partir de entrevistas com atores chaves entre janeiro e abril de 2020 e de informações secundárias, obtidas por meio de pesquisas bibliográficas e documentais. Os resultados deste artigo evidenciam que o Estado, por meio da implementação de mecanismos institucionais (leis, portarias, decretos), políticas públicas de comercialização e de crédito, ofereceu condições para que ocorressem a modernização das atividades produtivas e o crescimento da produção agroalimentar, o que resultou na ampliação do processo de mercantilização. Entre as implicações que esse processo social gerou, os agricultores transformaram-se em produtores simples de mercadorias, mas isso não alterou a condição dessa categoria social, uma vez que as normas, as regras e os valores sociais que regem as relações entre os atores sociais no interior dos grupos familiares não desapareceram em razão da intensificação das trocas.
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