Por Milena Fidelis*
Sem aulas presenciais desde 17 de março de 2020, o processo de retorno às escolas teve idas e vindas em Chapecó. As aulas estavam previstas para serem retomadas em 18 de fevereiro, mas os planos foram suspensos seis dias depois. Com a situação gravíssima na cidade pela covid-19, recordes de mortes e filas para atendimento nas UTIs, o retorno foi inviável.
Só em 11 de março, os 23 mil alunos da rede municipal puderam retornar presencialmente às 89 escolas. Para isso, foi necessário seguir uma série de regras de proteção, como distanciamento de 1,5 metro entre as mesas, obrigatoriedade no uso de máscaras, entre outros.
Também foi preciso fazer rodízios entre os alunos, devido ao modelo de turmas híbridas para atender ao limite de 50% de capacidade das escolas. Metade das turmas podem comparecer presencialmente e o restante fica em casa, acompanhando as aulas remotamente. Há a possibilidade de acompanhar as aulas totalmente online.
Na escola municipal Victor Meirelles, localizada no bairro São Pedro, um cartaz na entrada logo avisa que estão sendo atendidos “apenas” 180 alunos por turno, cerca de metade do total de estudantes da escola. Nos corredores e salas foram colocados adesivos no chão para marcar o distanciamento. Nas mesas do refeitório, fitas foram colocadas para que apenas 30 alunos ocupassem o espaço.
E uma sala precisou ser adaptada e transformada em “sala de isolamento” onde alunos com sintomas da covid-19 permanecem enquanto esperam pela família. Enquanto a reportagem estava na escola, uma menina com sintomas da doença aguardava a chegada do pai, que apareceu na instituição inclusive sem máscara.
Em média, cerca de 100 alunos não estão frequentando as aulas presenciais ou remotas, segundo observa o diretor Jairo Francisco dos Santos, educador há 26 anos e que recentemente assumiu a gestão da escola.
As salas não podem ultrapassar 50% de ocupação, mas na realidade a maioria das turmas têm menos de dez alunos comparecendo efetivamente de maneira presencial, tendo em vista que a média de alunos por turma é de 25. Em uma turma do quarto ano, ao serem questionados pela reportagem sobre quantos deles haviam participado dos encontros online, dos sete alunos presentes apenas dois levantaram as mãos, um deles afirmou ainda que conseguiu participar apenas uma vez, utilizando o celular.
Preocupação também com os professores
Além da baixa adesão, outra preocupação da gestão é com o corpo docente, os professores que têm contato com alguém infectado pelo coronavírus precisam ser afastados, depois, se contraírem a doença, passam mais 14 dias longe da escola.
A situação impossibilita a contratação de novos professores, visto que é necessário um atestado de 30 dias corridos para que seja realizado um novo recrutamento. Segundo o diretor, além da grande sobrecarga, uma vez que os professores preparam a aula de maneira presencial, remota e ainda precisam disponibilizar as atividades que são entregues semanalmente pela escola, que eventualmente terão de ser avaliadas.
Não há na escola nenhuma assistência social ou psicológica para estudantes ou alunos. “Em duas semanas de aula já tiveram situações de precisar ir até a sala chamar um aluno para conversar, porque a mãe acabara de falecer” conta Jairo, citando despreparo para lidar com esse tipo de situação.
Para o diretor, é imprescindível que haja programas sociais oferecidos pela prefeitura voltados para recuperar e acompanhar essas crianças.
(*) Com orientação do professor Hygino Vasconcellos