Seu Paulo, a Fênix

Por: Ana Paula Dornelles da Silva

Professora responsável: Ilka Goldschmidt

Paulo (à esquerda) dono do brechó, ao lado de seu amigo Hélio.

Paulo (à esquerda) dono do brechó, ao lado de seu amigo Hélio.

Paredes vermelhas, meio bordô. Letras garrafais brancas escritas à cima da porta de ferro. Dentro do recinto, roupas para crianças e adultos. Esse é o brechó do Paulo.

Cabelos brancos, olhos claros e expressivos, fala calma, simplicidade. Esse é o Seu Paulo. Montou seu brechó no Bairro São Pedro há nove meses. As roupas arrecadou através de anúncio no jornal local. Grande parte veio dos ricos que não sabem o que fazer com as roupas que não querem mais. Antes dali, tinha seu comércio em frente à rodoviária de Chapecó. Mas alguém roubou e botou fogo no lugar. Quem foi? Ele até sabe, mas não pode falar senão fica mal para o lado dele. É perigoso. Quando aconteceu, perdeu tudo, documentos, dinheiro, as roupas. Tinha acabado de receber sua aposentadoria. Perdeu também. Só ficou com a roupa do corpo e a vontade de continuar. Correu até o amigo Hélio, que logo o ajudou. Seu Hélio, um senhor galanteador. Com rapidez e agilidade cria poesias e as declama para moças que trocam umas palavras com ele. Até parecem versos decorados de tantas vezes que os usou, mudando apenas o nome da jovem.

Amigos há tempos, ambos separados de suas ex esposas há mais de 10 anos, ambos sem filhos, uniram-se na tragédia ocorrida ao Seu Paulo, que após o fogo queimar tudo, alugou um lugarzinho ali mesmo, no bairro considerado por quem vive longe, perigoso e pobre. Ali já está há nove meses. Ninguém nunca o incomodou. Mora nos fundos e paga 650 reais por mês. Volta e meia consegue mais roupas para vender. Recebe com frequência visita dos amigos, em especial de Seu Hélio. Só o que falta ainda é tirar umas fotos do brechó para fazer uma página no Facebook. Já que a lojinha dá lucro, o negócio é divulgar.

Além de comerciante, Paulo é pintor e pedreiro há 50 anos. O dinheiro que ganha em sua profissão consegue pagar o aluguel de sua morada e comércio. O dinheiro da lojinha é para sobreviver e ter uma renda extra. “Tudo ajuda”, ele diz.

Natural do Rio Grande do Sul, Paulo Dunke é descendente de alemão, mas fala muito pouco a língua. Em Chapecó há mais de 20 anos, gosta da cidade. Para ele, Chapecó e Curitiba são os melhores lugares que já viveu.

Mesmo com a tragédia ocorrida ao seu primeiro brechó. Seu Paulo não pensou só em si mesmo. Pouco tempo depois, uma tragédia muito maior passou por Xanxerê, derrubando tudo. E assim como recebeu ajuda, Paulo, senhor de coração bom, quis ajudar também. Reuniu uns móveis que lhe foram doados e mandou para a cidade vizinha, vítima do tornado. Ajudou, assim como foi ajudado.

Seu Paulo passou dificuldade no início desses nove meses, mas continuou firme. Não desistiu, até porque não poderia desistir. Segue a vida ao lado das tintas, das roupas e dos amigos. Uma vez ou outra recebe a visita de alguém curioso, seja uma estudante de jornalismo ou, com mais frequência, de pessoas querendo comprar roupas. Na despedida, se ele for com a cara da pessoa, dá até um chaveirinho de presente. Para mim, uma bonequinha recém-lavada, ainda molhada, para eu pendurar na câmera.