Por Wéliton Rocha*
As vacinas contra o coronavírus trouxeram esperança para os idosos, público mais acometido pela doença. O aposentado José Alves da Silva, 106 anos, era um dos 600 chapecoenses com mais de 90 anos de idade na espera pelas doses. Tomou a primeira em 10 de fevereiro deste ano, já a segunda 20 dias depois. Mas menos de um mês depois da imunização, acabou falecendo por causas naturais.
Enquanto aguardava por sua vez chegar, ele relembra das dificuldades do passado. Nascido em 1914 em Soledade (RS), começou a trabalhar na roça ainda criança, com 10 anos. No período oposto, frequentava a escola, onde cursou até a 4° série do ensino fundamental.
Com o passar dos anos, seu José trabalhou como comerciante levando produtos de uma cidade para outra. Ele conta que tudo era muito difícil naquela época. O transporte terrestre, por exemplo, era a cavalo ou de carroça. Lembro quando ele contava das difíceis viagens que fazia, quando a carroça estragava e quando o tempo estava ruim. Chegou a ser professor na localidade de Bom Retiro, lecionando para alunos de primeira à quarta série.
Os centenários, como seu José, ainda são raros em Santa Catarina. Segundo levantamento do IBGE, eram em média 405 pessoas com idade superior a 90 anos, mas a tendência é que isto aumente nos próximos anos. Eles fazem parte da faixa etária que mais cresceu em Santa Catarina entre os anos de 2000 e 2017.
José conta que quando nasceu tinha um irmão gêmeo, que faleceu com um ano e meio de idade devido a problemas de saúde. Na década de 20, quando alguém ficava doente eram curados por meio de remédios caseiros com plantas e raízes retirados da natureza.
Hoje os tratamentos mudaram. Medicamentos são produzidos em laboratórios a partir de plantas e substâncias químicas que contam com a ajuda da tecnologia para aprimorar cada vez mais os medicamentos biológicos.
Apesar da corrida para uma vacina, muitos idosos morreram após contrair a doença. Passando um ano da pandemia, 556 dos cerca de 600 com mais de 90 anos de idade já foram vacinados.
José não resistiu, mas por conta da idade já avançada, veio a falecer no mês de março deste ano. Como ele sempre dizia “Filho, viver é bom, mas velho demais já não é muito bom.”
Idade avançada deixa idosos propensos a infecções
Há alguns fatores principais que colocam os idosos em grupo de risco: segundo o coordenador do curso de medicina da Unochapecó, Juliano Brustolin:
– A idade avançada faz com que tenhamos uma alteração do sistema imunológico, que se torna menos responsivo às infecções, chamamos isso de imunossenescência, a perda da resposta imunológica adequada;
– Os idosos têm mais comorbidades em relação aos mais jovens, o que complica o quadro da covid-19 e a recuperação, além de aumentar a probabilidade de morte;
– A terceira idade tem mais chances de adquirir durante a internação outras infecções, por outros micro-organismos patogênicos, que complicam ainda mais o quadro da doença.
Hoje já há três tipos de vacinas ainda em testes disponíveis para uso contra a COVID-19, e cada uma delas tem um processo de ação diferente, algumas são de vírus morto, outras de material genético do vírus, e assim várias outras são feitas de forma diferente.