Por Patrick Eduardo Boff*
O coronavírus tem destroçado famílias mundo afora. Em Chapecó, o funcionário público Claudistoni Ramão Pinheiro, 52 anos, perdeu o pai e a mãe em um intervalo de cinco dias. Eles deixam quatro filhos e três netos.
O aposentado João Ramão Pinheiro,78 anos, pai de Claudistoni, chegou a contrair a doença duas vezes. A primeira vez foi em junho de 2020. Mas os sintomas foram leves e acabou se recuperando com pequenas sequelas no estômago e pulmões. Porém, na segunda vez não teve a mesma sorte e não resistiu.
A esposa dele, Melania Góes Pinheiro, 71 anos, positivou para a doença no início de fevereiro, que se suspeita que tenha contraído do filho mais novo, que morava com o casal.
Ela procurou atendimento médico duas vezes. Na primeira, foi mandada de volta para casa apesar da febre e dores no corpo.
A falta de ar e dores no corpo ficaram mais intensas e, em 22 de fevereiro, foi levada às pressas a UPA e transferida horas depois para UTI do Hospital Regional. Após quatro dias de internação, ela acabou falecendo.
Ao saber da morte da esposa, o marido começou a apresentar dificuldades para respirar e se alimentar – o que indicava que teria contraído a doença pela segunda vez. Por isso, foi internado com sintomas graves de reinfecção da doença e precisou ser internado, já sendo entubado na UTI. Chegou a ter melhora durante a internação, mas no quinto dia acabou piorando e veio a óbito em 28 de fevereiro.
“Esses dias foram muito agonizantes, entristecedor e com muita esperança que eles melhorassem”, relata o filho sobre a internação dos pais.
Passados dois meses, Claudistoni ainda tenta superar as perdas. “As primeiras semanas vinham muitas lembranças e sentimentos indescritíveis, sentia muita saudade e vontade de chorar a todo o tempo. Acordava de madrugada sair para caminhar na rua não acreditando na notícia da morte de meus pais. Eu cultivo uma horta em meu trabalho e isso me lembra muito o meu pai, pois foi ele que me ensinou. Quando vou lavar minha roupa eu sempre lembro da minha mãe, pois era ela quem sempre lavava a minha roupa, então quando me lembro sempre me dá aquela agonia”.
O filho relata sentimento de culpa. É que quando viu sua mãe e seu irmão com os primeiros sintomas, a família decidiu esperar que a mãe melhorasse, o que não ocorreu. “Se você tem algum sintoma, ou algum familiar que apresente sintomas, ou se você positivou Covid-19, não espere e procure imediatamente atendimento.”
Ansiedade da família foi grande, mas o final foi feliz
Por outro lado, outras famílias conseguiram superar a doença sem perdas. Na casa do empresário Antônio Boff, 62 anos, quatro pessoas pegaram a covid-19 – além dele, foram diagnosticados a esposa 59 anos, o filho, 27 anos e a nora, 26 anos.
Boff chegou a entrar em coma e ficou 16 dias internado, mas conseguiu escapar. Inicialmente, a família achava que as dores pelo corpo eram decorrentes do reumatismo.
“As dores foram se intensificando, e com isso o pai começou a ter febre. Desconfie que o pai estava com a doença, e o levei a UPA, onde os médicos fizeram todos os procedimentos e pediram que o pai fizesse o teste de Covid, onde demorava cinco dias para sair o resultado, dando todos os medicamentos para ele”, conta o filho do empresário, Marco Antônio Boff.
Sem melhorar, o empresário foi levado ao Hospital da Unimed, mas pela segunda vez foi mandado de volta para casa. Duas semanas se passaram e nada dos sintomas cesarem. “Meu pai sentiu muita falta de ar, eu e a mãe resolvemos levar ele de novo a UPA, onde o pai ficou no oxigênio. Foi encaminhado com urgência ao Hospital Regional”.
O empresário lembra pouco dos 16 dias no hospital. ”No terceiro dia de hospital o meu quadro clínico estava cada vez pior, a equipe médica resolveu me internar na UTI onde fiquei em coma por 16 dias. Não me lembro de nada do que aconteceu durante todos esses dias”.
O filho era quem recebia as informações por telefone dos médicos e enfermeiras do hospital. Os médicos, segundo ele, só deram 5% de chances de sobrevivência. Foram dias em claro para a família e de preocupação.
“No meu trabalho na empresa do pai, eu não conseguia desenvolver minhas tarefas e funções por conta da preocupação e lembranças que vinha do pai”, conta o filho.
Mas o empresário acordou do coma. Ao saber da notícia, o filho não acreditou e começou a chorar constantemente de felicidade. Logo nos primeiros dias após sair do hospital, Boff não conseguia caminhar e se comunicar direito. E agora, passado quase dois meses da alta, ainda segue em tratamento pós-covid.
(*) Com orientação do professor Hygino Vasconcellos