Lockdown em Chapecó: Farinha pouca, meu pirão primeiro

Por Gabriel Augusto Scheffer*

Não! Esta matéria não é sobre culinária ou receita de pirão de peixe. O título com traços de ironia remete ao refrão de Meu pirão primeiro, do cantor e compositor Bezerra da Silva. Além da música, a expressão também é um ditado popular que expressa o egoísmo do ser humano em certas situações, de pensar apenas em si e não no coletivo. Em um contexto de crise causada pelo coronavírus, a frase fica ainda mais evidente. 

Em 22 de fevereiro, os supermercados de Chapecó registraram filas quilométricas, aglomeração, empurra-empurra e nervosismo. A cena ocorreu antes mesmo do prefeito João Rodrigues anunciar um lockdown parcial na cidade devido ao colapso no sistema de saúde por conta da covid-19. Um áudio do próprio chefe do Executivo, inicialmente direcionado aos vereadores, acabou vazando e a população, em pânico, decidiu encher a despensa. 

Mas a cena de pânico não foi exclusiva da pandemia. Em 2018, motoristas desesperados acabaram com a gasolina na cidade antes mesmo do início da greve dos caminhoneiros. Mas o que faz as pessoas agirem assim? É o que vamos discutir nesta reportagem.

A influência do meio e das redes sociais 

Há três motivos que podem explicar o pânico das pessoas em momentos de crise, entende a professora de sociologia da rede estadual de ensino Camila Pelegrini. A necessidade do ser humano conviver em grupo é o primeiro deles; na sequência vem a influência de outras pessoas no nosso comportamento, hábitos e opiniões e, por último, está o consumismo que eleva o lado individualista e competitivo de uma parcela da população

Neste aspecto, o medo de ficar sem itens básicos está acima do espírito coletivo. “O consumo impõe esse lado competitivo do ser-humano aonde que ao mesmo tempo ele pensa no grupo, mas o lado individual não é no sentido do isolamento. É o lado competitivo. Eu vou poder ter, o outro não sei, não estou preocupado”, comenta Camila. 

A difusão de notícias falsas é mais um fator que pode gerar pânico nas pessoas – tanto na corrida recente aos supermercados quanto na busca desenfreada por combustível em 2018, devido à greve dos caminhoneiros. A explicação pode estar na criação de verdadeiras “bolhas” de ideias semelhantes entre indivíduos, verificado principalmente no WhatsApp e no Facebook que tendem a distorcer os fatos, explica a professora de jornalismo, Ana Paula Bourscheid. 

“A desinformação contemporânea tem um aliado que não existia por exemplo nos períodos de guerra, como Guerra Fria e Segunda Guerra Mundial. Nessa época, não se tinha a internet e as redes sociais digitais. E a desinformação não se espalhava nessa velocidade, não tinha esse alcance que tem hoje. E é por isso que ela se torna tão perigosa, tão difícil de rastrear na maioria das vezes e tão difícil de combater.”

Aliado ao sentimento de preocupação, a situação pode ser um campo fértil para a desordem. “E como o que nos move, que move principalmente a desinformação é o medo, a primeira coisa é reagir. Então a primeira coisa é correr para a fila do supermercado”, explica. 

Mas o que fazer nestas situações? 

Claro que não é fácil manter a calma em momentos que mudam a rotina. Porém, algumas atitudes tendem a contribuir para amenizar a situação e não piorar as coisas. “A gente precisa respirar fundo, analisar a situação, ver realmente o que é risco real ou o que eu estou aumentando”, sugere a psicóloga Cleusa Aline Schuh. 

Consumir informações verídicas e confiáveis pode ser uma das soluções para não entrar em pânico sem necessidade. “O ideal é buscar direto da fonte. Ligar no supermercado. Parar de ficar de papo no grupo de WhatsApp com tantos especialistas em achismos dos mais variados, para manter a calma”, entende a professora de jornalismo. 

Para saber mais sobre o assunto, ouça nosso Podcast

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