Em movimento: as ações de Jonathan em busca de um mundo melhor

Em movimento: as ações de Jonathan em busca de um mundo melhor

O jovem está envolvido no Gapa Chapecó além da organização estudantil e causas sociais em geral

Produção: Luana Poletto | Supervisão: Eliane Taffarel

Apoiar causas sociais é ter uma visão para o futuro. Gastar voz em manifestações e estar a frente do ativismo, de modo a cobrar por um mundo mais justo, é buscar por mudanças e melhorias. Este papel tem sido cada vez mais exercido por jovens e, conforme a Organização das Nações Unidas (ONU), o mundo pode alcançar avanços econômicos e sociais expressivos se investir mais no potencial produtivo dos adolescentes. 

Jovens protagonistas

Jonathan Yuri Possan. Fonte: Arquivo pessoal.

Jonathan Yuri Possan tem 17 anos e é estudante do 3º ano do Ensino Médio na Escola de Educação Básica Profª Lidia Glustack Remus, em Chapecó. No tempo livre, o jovem gosta de jogos online de simulação de gerenciamento de países. Além disso, costuma ler sobre leis e estudar Direito. Seus planos para o futuro envolvem concluir o Ensino Médio, fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) e entrar em uma universidade. Ele também gostaria muito de residir nos Estados Unidos algum dia, mas este é um desejo que ainda vai tentar buscar.

Viver em sociedade envolve que os cidadãos exerçam seus deveres e recebam os direitos. Jonathan defende a ideia de que, quando existe uma causa social que lute por aqueles que não conseguem lutar por si, é necessário o apoio a ela. “Este apoio não deve ser somente com palavras. Você tem que ir lá, participar, exigir os direitos dos outros e os seus”, destaca. 

“Em um país com mais de 200 milhões de habitantes e uma administração pública defasada, é necessário que as pessoas tenham consciência de que se elas não se ‘mexerem’, não irem atrás, não lutarem ou não exigirem, sempre vão ser esquecidas. Causas sociais são necessárias para dizer aos nossos governantes ‘precisamos de atenção para isso’”.

Jonathan participa do Gapa Chapecó há três anos. Esta é uma associação sem fins lucrativos que tem por finalidade exercer a participação e o controle social, propor, articular e fomentar ações de promoção dos Direitos Humanos, Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais, prioritariamente nas áreas da assistência social, cidadania, cultura, educação e saúde. Há mais de 30 anos o grupo está na luta por políticas públicas de saúde, realiza ações de prevenção e conscientiza contra o preconceito e a discriminação.

Gapa Chapecó. Fonte: Divulgação Facebook.

Durante este ano, em função dos estudos, Jonathan não tem disponibilidade para acompanhar o grupo. Entretanto, conforme o jovem, nos anos anteriores foram desenvolvidas atividades, projetos e até palestras na comunidade do Alto da Serra em Chapecó, onde ele reside, e na escola que ele estuda. O foco em 2019 foi a conscientização sobre sexualidade. “Muitas vezes as pessoas têm em mente que esse tema se refere somente à orientação sexual. Não é só isso, envolve também, mas além disso, assuntos diversos como HIV, AIDS, gravidez e outros que vão até mais no sentido dos direitos das mulheres, das crianças e adolescentes e outros tópicos, não menos importantes”, salienta.

O jovem conta que o Gapa sugere levar para casa o que é aprendido e compartilhar com a família. Quando foi sugerido que os jovens levassem para outros jovens debates, palestras e apresentações, foi algo revolucionário. “Nós saímos daquela monotonia de que ‘jovens escutam e adultos falam’”, comenta. Foi desenvolvida uma palestra na Escola de Educação Básica Profª Lidia Glustack Remus sobre HIV, gravidez, AIDS, ISTs e outros assuntos que muitas vezes não são estudados nas salas de aula. “Na escola, conforme a grade curricular, se o professor quiser dar uma aula para falar sobre algo que vai promover o desenvolvimento do adolescente ou da criança, ele tem que mudar um cronograma de estudo para o ano todo. Por isso a importância do Gapa para realizar estes projetos. Mas o grupo não é somente isso, nós também somos controladores sociais, exercemos como cidadãos este controle”, destaca Jonathan. 

Parte da equipe do Gapa em uma palestra promovida sobre os Direitos das Mulheres. Fonte: Arquivo pessoal.

Iniciativas na escola

Quando ingressou no Ensino Médio e começou a estudar Filosofia e Sociologia, houve um interesse em saber como a sociedade funciona. Assim, Jonathan aprendeu que uma das formas de lutar por causas que apoia, enquanto jovem, é por meio do Grêmio Estudantil. “Eu falei com alguns amigos meus e alunos que se destacam na escola e convidei eles para formar uma chapa para concorrer. Fomos eleitos e começamos a desenvolver projetos na escola. Devido a falta de estrutura, nossos trabalhos precisam ser criativos”, conta.

O jovem explica que toda sala tem um líder de classe, e este faz a comunicação entre o Grêmio Estudantil e a turma. Já a organização (o Grêmio) faz a mediação entre o corpo estudantil e a gestão escolar. “Os estudantes manifestam suas vontades e causas pelos líderes que levam até a gente. Nós mapeamos o assunto na escola, em forma de pesquisa, e projetamos como desenvolver ele”, ressalta.

Quando a chapa de Jonathan foi eleita, em 2019, começaram a surgir casos de ansiedade e depressão na escola. Estes já existiam, mas até então não recebiam a devida atenção. O grupo percebeu que haviam casos de tentativas de suicídio, e buscou contatar a direção para saber o que poderia ser feito. Juntos, foram para uma palestra realizada na Unochapecó sobre ansiedade e depressão na adolescência e infância, onde estavam presentes a Diretoria da escola e o Jonathan, como representante e presidente do Grêmio. “Nesse dia nós participamos de grupos de debates e nossa escola foi selecionada para o desenvolvimento de um projeto pela Unochapecó. Este consistia na ida dos acadêmicos de Psicologia para a escola, de modo a fazer um grupo de terapia. Por meio disso, foi possível perceber a gravidade dos casos. Assim, dava-se o encaminhamento para um profissional já formado, que daria o auxílio. O projeto foi interrompido em 2020 devido a pandemia, mas ele deu resultados excelentes”, destaca.

Com a Covid-19 e o distanciamento social, os problemas relacionados à saúde mental aumentaram. Uma pesquisa da Universidade de Ohio (EUA), de março de 2021, apontou que o Brasil lidera índices de ansiedade e depressão durante a pandemia, quando comparado a outras 10 nações. Irlanda e EUA aparecem em segundo e terceiro lugar, respectivamente. Entre os 1.500 brasileiros ouvidos, 63% tinham sintomas de ansiedade e 59% de depressão. A maioria (84,8%) não tinha diagnóstico de transtornos mentais antes da pandemia.

Em função disso, durante este período, Jonathan conta que o Grêmio optou por dar incentivo e ajudar os alunos com dificuldades de forma online. A iniciativa veio através de uma reunião do grupo com a professora orientadora, em que foi citado sobre a saúde mental dos estudantes. “No decorrer do ano de 2020 fizemos várias chamadas via Google Meet com os alunos, conversamos sobre os trabalhos, provas e como eles estavam, uma conversa entre amigos mesmo, mas tentávamos através disso fazer com que eles não se sentissem sozinhos, que soubessem que tinha e tem alguém por eles ali. Então falamos para que não desistam e que nós sempre estamos à disposição”, conta.

Com essas ligações foi possível perceber alguns casos de alunos que não conseguiam entregar suas atividades devido a problemas de conexão ou porque tinham que trabalhar para ajudar na renda familiar. Outros casos também de alunos que estavam desanimados devido ao choque que a pandemia causou. “Eu mesmo me responsabilizei de chamar estes estudantes no privado e dar auxílio. Conversando com eles pude perceber como nossa sociedade hoje é tão sozinha, então quando eles sabiam que tinham alguém para contar as dificuldades se sentiam acolhidos, visíveis e percebiam que não estavam sozinhos. O projeto deu bons frutos e através dele conseguimos mapear famílias com dificuldades financeiras e buscar auxílios a elas”, salienta. 

Importância do apoio a causas sociais 

Para Jonathan, a importância de se envolver não somente em causas sociais, mas na sociedade como um todo é essencial para existir inovação. “Os jovens são a geração com mais energia. Se todos participassem de causas sociais, como por exemplo o combate ao abuso infantil, educação para jovens e crianças, apoio a mulheres vítimas de violência, combate a pobreza e outros, nós teríamos uma geração daqui 20 anos apta para entrar na política com conhecimento de como as leis estão bem escritas, mas não bem praticadas”, destaca.

“A participação em causas sociais leva o jovem ao amadurecimento, faz ele entender como deve buscar a mudança da sociedade frente a uma injustiça ou frente a defasagem da administração pública”.

Para o jovem, causas e movimentos sociais perdem credibilidade, moral e interesse a partir do momento que levantam uma bandeira de um partido político. “Não critico partidos, mas sim o uso de manifestações por partidos, pois ocorre o interesse político atrás, interesse de em eleições ganhar apoio de movimentos sociais, o que causa desinteresse por parte daqueles que não convergem com aquele determinado partido. Precisamos que causas e movimentos sociais possam entrar nas escolas e mostrar seus ideais de luta, seus valores e objetivos, e despertar o interesse do jovem mostrando a mais pura verdade do que é e o que faz o movimento. Mas acho essencial primeiro fazermos uma modificação nestas causas e movimentos sociais que é a despartidarização”, finaliza Jonathan. 

Cidadãos do Futuro

O projeto “Cidadãos do Futuro” foi organizado pelo curso de Jornalismo da Unochapecó. O objetivo é levantar pautas para a produção de interesses do público jovem que visa discutir temas de impacto social, trazendo uma visão crítica sobre o futuro da sociedade.

Foi elaborado um formulário destinado aos estudantes do Ensino Médio do entorno da Região de Chapecó (Oeste de Santa Catarina, Norte do Rio Grande do Sul e Sudoeste do Paraná). A intenção é identificar o protagonismo desses estudantes na luta por causas sociais, de empoderamento e defesa da democracia. Além disso, contar essas histórias quando eles optam por deixar seu contato e o projeto em que estão envolvidos. 

Se você é jovem e se interessou pelo Cidadãos do Futuro, clique aqui e responda nosso questionário.

2 Comentários

  1. Foi muito gratificante poder estar debatendo sobre estes assuntos durante esse tempo, é mais ainda poder expor eles em rede. Obrigado a Luana, tenha sucesso na sua carreira.

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  2. Parabéns, Jonathan, pela visão de mundo critica e a busca por direitos para todes. Olhar além da nossa realidade não é tarefa fácil, mas é possível. Enxergar problemas que não nos afligem, mas que precisam de atenção. Continue tua luta!

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  1. Cidadãos do Futuro apresenta informações parciais do formulário | Clim - […] essas pessoas para a produção das reportagens. Confira as histórias da Érica, da Laryssa, do Jonathan, do Juno e…

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