O esforço que poucos veem

Por Kelin Regina Wirth

Professora responsável: Ilka Goldschmidt

Você possivelmente tem, ou ao menos conhece alguém que tenha, um animal de estimação. Cães e gatos são os mais cogitados quando se fala em animal de estimação, prova disso são os dados da Pesquisa Nacional da Saúde do ano de 2013 realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ele revelou que o Brasil possui cerca de 52 milhões de cães em domicílio brasileiros o que dá uma média de 1,8 cães por casa. Em relação aos gatos a pesquisa mostra que cerca de 17,7% dos domicílio do país têm ao menos um. São cerca de 22,1 milhões de gatos, aproximadamente 1,9 por domicilio.

Assim como existem animais que têm um lar e são amados por seus donos, em contrapartida em 2014 a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou que existem cerca de 30 milhões de animais abandonados no Brasil. São aproximadamente 20 milhões de cães e 10 milhões de gatos nessa situação. Em cidades de grande porte, para cada cinco habitantes há um cachorro, por volta de 10% estão abandonados nas ruas.

Dados próximos

No município de Chapecó/SC, foi levantado em 2015 o número de quatro mil animais abandonados nas ruas. Nesse mesmo ano a população chapecoense era de mais de 205 mil habitantes (segundo dados do IBGE), ou seja, para cada 51,4 habitantes, há ao menos um animal abandonado.

Já em Capinzal/SC a prefeitura estima que existem mais de mil animais nas ruas. Em julho de 2015 a população era de 22.129 pessoas (segundo dados do IBGE), o que equivale a um animal abandonado a cada 22 pessoas no município.

Ações

A maioria das ações realizadas pelas entidades é para conseguir ajuda de custo. Já foram realizadas feirinhas e brechós para conseguir ajuda financeira. O foco das entidades é realizar castrações nos animais recolhidos para um resultado de longo prazo. Em Chapecó, o grupo Amparo Animal tenta realizar as castrações, mas devido ao alto custo e as denúncias de maus tratos que chegam a toda hora, não conseguem dar continuidade. A intenção é doar filhotes já castrados para quem adota, quando isso não é possível as voluntárias conversam com os adotantes para que eles levem ao veterinário para realizar o procedimento. Muitas vezes as famílias desistem do processo de adoção quando essa informação é repassada, mesmo quando é informado que o valor será reduzido por ser um animal da ONG.

Em contraponto, a Faunamiga em parceria com a prefeitura, já conseguiu realizar três mutirões de castração em Capinzal. Algumas cirurgias são custeadas pela prefeitura, as demais têm um custo abaixo da média que pode ser parcelado em até duas vezes. O evento é realizado por duas médicas veterinárias que vêm de Florianópolis com todos os equipamentos necessários e também conta com o apoio de clínicas das cidades abrangentes, até mesmo com acadêmicos dos cursos de medicina veterinária de algumas universidades. Mas para participar existe um processo pelo qual os animais passam antes de realizar a cirurgia; o primeiro passo é o preenchimento de uma ficha cadastro que é realizado semanas antes em vários pontos da cidade, já que as vagas são limitadas. No dia da ação é realizada uma triagem com alguns exames para ver qual a condição do animal, em seguida é  o pré-anestésico e por fim a cirurgia. Depois da cirurgia os animais ainda ficam sob observação por um período.

Existem nessas cidades grupos e ONGs de proteção animal. Em Chapecó, o grupo Amparo Animal Chapecó é um dos que prestam serviços a esses animais. O grupo ainda não possuí um registro como ONG ou associação de proteção animal, por conta disso, sobrevive apenas de doações para custear todas as despesas com animais resgatados. Quando o grupo conseguir o registro se tornará mais fácil a captação de recursos financeiros, como é o caso da ONG Faunamiga, de Capinzal, que é registrada como Associação de Proteção Animal e Ambiental de Capinzal, Ouro e Região. Com esse registro a ONG consegue desenvolver e promover movimentos, receber verbas e prestar contas à Receita Federal sobre o uso de verbas arrecadadas. Por conta desse registro também, a presidente da ONG, Evelin Serafini, disse ter conseguido recurso financeiro repassado pelas prefeituras de Capinzal, no valor de oito mil reais por ano e de Ouro, no valor de três mil reais anuais. O gastos, segundo informações dos dois grupos, referem-se a consultas, medicamentos, alimentação e em alguns casos cirurgias dos animais.

As duas entidades não possuem nenhum fim lucrativo e são compostas por pessoas voluntárias. Ambas com um número pequeno de voluntárias, levando em consideração a quantia de animais que precisam de ajuda. Em Chapecó são 23 voluntárias para cuidar e encontrar um lar para 130 cães e 40 gatos (até o dia da entrevista com as responsáveis). Em Capinzal o número é ainda menor, 10 voluntárias para 85 animais sob cuidados. Nesses dados não foram levados em consideração os animais que não puderam ser resgatados devido a superlotação já registrada.

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Doações

 

A principal fonte financeira dos grupos são doações realizadas por terceiros. Além de dinheiro para custear as despesas de castração, atendimento clínico, medicamentos e cirurgias as responsáveis relatam que muitas vezes falta ração para alimentar os animais que estão nos lares temporários. A voluntária do grupo Amparo Animal, Eliane Albrecht é uma das que acolhe alguns animais em sua casa, até o dia da entrevista contava com 48 cães e 12 gatos para adoção. Ela relata que são consumidos em média 150Kg de ração por mês. Quando não há doações o suficiente, as voluntárias desembolsam o valor equivalente para compra da alimentação para os animais.

Em Capinzal, a situação é semelhante. São seis lares temporários, sendo que um deles é específico para animais idosos que não estão disponíveis para adoção, apenas são cuidados para terem uma “morte digna”, como relata Evelin.

Os grupos possuem contas em bancos para que sejam realizados depósitos afim de ajudar a arrecadar dinheiro e ajudar os animais que são resgatados, podendo ser efetuado o depósito de qualquer lugar do país. Para ajudar o grupo Amparo Animal Chapecó, pode-se fazer no Banco do Brasil, agência 3003-x, conta 24418-x. Já a ONG Faunamiga de Capinzal utiliza a Caixa Econômica Federal, agência 1071, operação 013 e conta 469919-1.

Denúncias

Apesar dos grupos terem como foco a castração, também recebem muitas denúncias de mau tratos aos animais. Em Chapecó, as denúncias são feitas pela página do facebook do grupo. Muitas delas são por envenenamento, esfaqueamento e tiros com espingarda de pressão. Também já ocorreram denúncias de abuso sexual contra os animais. Toda vez que uma denúncia é realizada, primeiramente é  feito uma análise do caso e se necessário, as voluntárias voltam posteriormente com a polícia. Em todos os casos de mal tratos e abandonos, é registrado um boletim de ocorrência na delegacia.

Na cidade de Capinzal o processo é muito semelhante e além da página no facebook, a ONG conta com dois números de celulares específicos para esse fim. Todas as denúncias são mantidas no anonimato, para evitar problemas posteriores.

Casos

Muitos  animais são resgatados em situação deploráveis, mas em Chapecó dois casos se destacam, o Chico e a Maia.

Chico foi encontrado na rua Sete de Setembro em Chapecó por uma voluntária do Amparo Animal. Ela relata que por volta de meio dia passou de carro pelo cão que parecia muito abatido e mau tratado. Ao desembarcar para ir vê-lo percebeu a gravidade da situação. Chico estava com mais de três mil bicheiras na cabeça. A voluntária o levou até uma das clínicas parceiras do grupo, onde ele passou por uma cirurgia de remoção de uma das orelhas. Após a cirurgia ainda foi necessário a permanência de mais cinco dias na clínica para recuperação.

Maia foi encontrada pela mesma voluntária próximo à sua residência. A cadelinha foi encontrada numa manhã muito gelada, tremendo. Chorava muito devido a dor e ao frio. Um dos olhos de Maia estava muito machucado, provavelmente foi atropelada. Ela foi recolhida e levada para atendimento em uma clínica veterinária da cidade. O olho machucado teve de ser retirado com um procedimento cirúrgico. Ela foi adotada pela própria voluntária, que hoje consegue suprir todas as suas necessidades.

Outro caso que chamou a atenção na região foi do cão adotado por uma família de Xanxerê. Hoje ele é carinhosamente chamado de Valente. Valente estava solto pelas ruas de uma cidade próxima a Xanxerê e ao perceber a situação a família de Ivo Döhl recolheu o cão e o levou para uma clínica veterinária. Na clínica eles souberam que o animal estava com a mandíbula deslocada, provavelmente por conta de maus tratos, e que teria que passar por uma cirurgia para tentar resolver o problema. Como a cirurgia era de um custo muito elevado para a família arcar sozinha, promoveu uma rifa para arrecadar o dinheiro que faltaria. No total, eles conseguiram três mil reais, o que por enquanto é o suficiente para pagar as despesas. Depois da cirurgia a família de Ivo acabou abrigando Valente para sua recuperação e com o passar dos dias, decidiu que iria adotar o animal.

Maia

 

 

Valente

 

 

Chico

Final Feliz

Chico, Maia e Valente tiveram, apesar de tudo, um final feliz. Infelizmente nem todos os animais de rua tem essa sorte. Muito ainda há de ser feito por esses animais que sofrem nas ruas das cidades, principalmente em dias de frio. Além dos animais que vivem nas ruas, os animais que vivem sob maus tratos de seus tutores também sofrem. Apesar das denúncias registradas e da punição específica em lei no Art. 32. da lei Federal número 9.605/98 que é passivo de prisão e multa e no decreto número 24645 de 10/07/1934 onde estipula o valor da multa em R$200,00 a R$ 500,00 e pena de prisão de 2 a 15 dias, as denúncias ainda são grandes e ainda há muito o que se fazer.

Todo indivíduo, seja ele da raça humana ou não, têm direito a uma vida digna, a ter comida e saúde. Ainda não vivemos em mundo perfeito onde isso possa acontecer, mas como dizem por aí “a esperança é a última que morre”.