Mudanças de hábitos em prol do meio ambiente

Mudanças de hábitos em prol do meio ambiente

Juno e Julia compartilham suas experiências nos processos de se tornarem vegetarianos/veganos e a importância dessa atitude

Produção: Luana Poletto | Supervisão: Eliane Taffarel | Infográficos: Bruna Mascarelo 


A Semana Nacional do Meio Ambiente é comemorada na primeira semana do mês de junho, quando no dia 5 se celebra o Dia Mundial do Meio Ambiente. Esta data visa fazer com que a sociedade discuta mais sobre iniciativas de conscientização e preservação do patrimônio natural do país. Muitas pessoas já adotam estilos de vida que buscam não agredir a natureza. Um exemplo é o vegetarianismo. De acordo com uma pesquisa feita pelo IBOPE em abril de 2018, cerca de 30 milhões de brasileiros são vegetarianos, o que corresponde a aproximadamente 14% da população. Além disso, 7 milhões são veganos. Tais escolhas possibilitam uma alimentação e um estilo de vida mais benéfico para o meio ambiente. 

Diferenças entre vegetarianismo e veganismo. Créditos: Bruna Mascarelo.

Cientistas das universidades de Tulane e de Michigan, nos Estados Unidos, apontam que quando uma pessoa dá preferência a carnes e laticínios, contribui para uma produção cinco vezes maior de gases do efeito estufa do que quem prioriza vegetais. A ONU estimou que cerca de 14,5% das emissões de gases do efeito estufa oriundas de atividades humanas têm origem no setor pecuário. A maior parte do desmatamento da Amazônia tem sua origem na produção de carnes, laticínios e ovos. Além disso, de acordo com a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), são abatidos mais de 10 mil animais terrestres por minuto no Brasil para produzir carnes, leite e ovos.

O vegetarianismo é o regime alimentar que exclui os produtos de origem animal. A SVB reconhece algumas variações do termo: Ovolactovegetarianismo (utiliza ovos, leite e laticínios na sua alimentação); Lactovegetarianismo (utiliza leite e laticínios na sua alimentação);  Ovovegetarianismo (utiliza ovos na sua alimentação); Vegetarianismo estrito (não utiliza nenhum produto de origem animal na sua alimentação). O veganismo, segundo definição da Vegan Society, é um modo de viver que busca excluir, na medida do possível e praticável, todas as formas de exploração e crueldade contra os animais – seja na alimentação, no vestuário ou em outras esferas do consumo.

Vegetarianismo e seus grupos. Créditos: Bruna Mascarelo.

Jovens protagonistas

Juno

Juno de Mello Zanchet. Fonte: arquivo pessoal.

Juno de Mello Zanchet tem 18 anos e é estudante do Ensino Médio pela Cooperativa de Trabalho Educacional de Professores e Especialistas (Cooepe), em Xaxim. Além disso, é estagiário na Secretaria da Saúde do município. O jovem está no processo de se tornar cantor. Seu sonho é criar uma ONG para ajudar pessoas LGBTQIA+ de toda forma possível e fazer sua música voar, ser reconhecida. Juno toca ukulele, escreve poemas e compõe canções. Além disso, gosta de pintar, ler e cozinhar. 

Ele conta que o interesse pelo vegetarianismo/veganismo iniciou quando tinha 15 anos, quando começou com o processo de aderir ao ovolactovegetarianismo. 

“Desde criança nunca fui muito fã de carne. Comia somente tipos específicos e às vezes nem queria. Depois que amadureci um pouco e fiz amizade com pessoas veganas e vegetarianas, percebi e pesquisei o quão cruel é a indústria da carne/ovos/laticínios, o quanto sofrem os animais envolvidos e da forma desumana que são criados e mortos, decidi mudar meu pensamento”.

O jovem está no processo de transição do lactovegetarianismo para o veganismo, e precisa modificar a dieta para suprir todas as vitaminas necessárias, fazer a adaptação correta para seu corpo permanecer saudável. “É necessário fazer exercícios e alongamentos que admito que não faço tão regularmente, porém, deveria, hábitos que devemos ter independente da sua alimentação, porque alivia ansiedade e stress, dentre outros”, destaca. 

Juno também conta que as críticas como “mas você não come nem peixe?”, “vai morrer de fome desse jeito”, “como você não está anêmico?”, “você só come grama, não dá pra viver sem carne” e várias outras falas e julgamentos, são parte do seu cotidiano. Entretanto, algumas pessoas estão abertas a ouvir e mudar seu pensamento. “Até minha mãe reduziu drasticamente o consumo de carne dela, meus irmãos também são bem tranquilos em relação ao vegetarianismo e veganismo. É sempre bom falar sobre e mostrar o quanto a indústria da carne afeta tanto nossa flora, assim tomamos consciência da realidade e do que está se passando realmente”, salienta.  

“Como ainda estou no processo de transição percebo cada dia mais e mais a importância, e como só uma pessoa a mais adotando o veganismo já diminui nem que seja um pouquinho na porcentagem do consumo de carnes, ovos e laticínios”.

A conscientização é essencial para que a sociedade fique ciente de como funciona esse estilo de vida e como beneficia o meio ambiente. Para Juno, esse processo é fácil, ele comenta que basta pesquisar em sites confiáveis e seguir perfis veganos e vegetarianos nas redes sociais. Porém, o jovem também pensa na grande parte da população brasileira que não possui acesso a internet. “A desigualdade social deu um salto no país nos últimos anos, e com o aumento dos preços em mercados vem dificultando mais e mais a vida do trabalhador. Eu creio que somente atingindo igualdade será possível a maior parte da população adotar o vegetarianismo e veganismo no seu dia a dia, e assim estar ciente do que realmente se passa nessa indústria”, destaca. 

Além disso, Juno comenta que percebe cardápios com opções veganas em muitos restaurantes e estabelecimentos, o que é ótimo. “Assim estão mostrando que a comida é igualmente e, se não, mais saborosa. Preparada da maneira correta, temperos são a chave para uma boa refeição. Deste modo, além de mostrar que comidas veganas não são sem graça ou que são muito complexas/elaboradas de preparar, educa e faz as pessoas deixarem de pensar que é um bicho de sete cabeças e sim uma refeição saudável e sem crueldade”, finaliza.

Julia 

Julia Jung. Fonte: arquivo pessoal.

Julia Jung tem 18 anos e é estudante do curso de Jornalismo da Unochapecó, de Chapecó. A jovem gosta de ler e ouvir música. Seu sonho é viajar pelo Brasil, e seus planos para o futuro envolvem aprender várias línguas.

Seu interesse pelo veganismo iniciou quando conheceu uma pessoa no Ensino Médio que tinha uma dieta ovolactovegetariana. Isto serviu como ponto de partida. “Fiquei curiosa e fui pesquisar mais. Encontrei muitos documentários sobre diferentes discussões no assunto. Depois disso, as influências vieram de pessoas na internet procurando informar e ajudar os outros”, comenta.

A jovem conta que dizem que o veganismo pode ser dividido em três: ética, impactos ambientais e saúde. Ela começou se conscientizando sobre o desmatamento, o mau uso da terra, a poluição e a destruição dos ecossistemas. “Para ser sincera, demorou um pouco até que eu entendesse a questão ética por trás do veganismo. Hoje em dia eu gosto bastante de me informar sobre os impactos que a dieta à base de plantas tem no nosso organismo e penso que, eventualmente, eu acabaria me tornando vegana por causa dessa busca por uma alimentação saudável”, ressalta.

“Quando você faz parte de uma cultura onde o consumo de carne nunca é questionado, reprogramar a mente para parar de ver aquilo como comida e começar a enxergar um animal morto não é fácil”.

Para Julia, o veganismo é uma conscientização, um constante aprendizado sobre o ambiente. Então, conforme a pessoa se informa, ela percebe que não precisa iniciar sempre pela alimentação. “Um assunto muito tocado pelas pessoas é o destino dos resíduos que nós produzimos. Esses resíduos têm um impacto enorme nos ecossistemas porque a taxa de reciclagem do Brasil é baixíssima. E reciclar não é de graça. Muitas pessoas acham que a solução para esse problema é parar de consumir plástico, por exemplo, mas na verdade a resposta está no destino que você vai dar para ele. Comprou, usou e já jogou fora? Isso não é legal. Comprou, usou e guardou pra usar outras vezes até o negócio finalmente furar ou rasgar? Bacana! E só aí que você vai se preocupar em jogar o plástico no lixo correto”, salienta.

Quando iniciou esse processo de ser vegana, Julia conta que recebia críticas não pela escolha, mas em relação à comida. “Ninguém queria um risoto de legumes. E eu adoro fazer comida para os outros. Ser impedida de fazer isso só porque as pessoas não queriam ficar sem carne durante uma refeição foi bem doloroso. As críticas que eu recebo atualmente não passam de achismo, de argumentos infundados, porque são comentários sempre do tipo: `Não, eu não acho que comer salame, presunto e queijo todo dia faça mal`”, comenta.

Os familiares de Julia aceitaram sua escolha, mas nunca a apoiaram. “Recentemente, no entanto, minha mãe resolveu ser ovolactovegetariana durante a semana. E o meu pai recebeu uma ordem do médico para diminuir o consumo de carne. Eles gostam muito da minha comida, mas ainda não conseguiram largar a carne de vez”, conta. 

A jovem busca influenciar outras pessoas sobre esse estilo de vida.

“Eu sei que a gente não pode tentar impor uma dieta completamente diferente numa pessoa que está acostumada a comer carne a vida inteira, mas eu não consigo deixar de falar sobre o assunto e pesquisar tudo que posso para ter como informar as pessoas ao meu redor. É extremamente importante que esse conhecimento seja disseminado, porque, como já foi dito, o veganismo não é só comida. Ele é uma chamada para que você abra os olhos e veja a situação ambiental do Brasil e do mundo como ela realmente é – mais importante ainda, entender o porquê disso tudo. Não dá pra olhar para essa seca histórica que o país está enfrentando agora e achar que é só rezar por mais chuva ano que vem. Enquanto o Sul e o Sudeste sofrem com estiagem, o Norte do Brasil afunda em enchentes. Alguma coisa tá errada, não tá?”.

Para ela, a importância desse estilo de vida é o desenvolvimento da empatia. As pessoas precisam aprender a se preocupar com os outros. “Se você tem condições de dedicar tempo à pesquisas, receitas novas e mais idas à feira local, faça isso. Enquanto você não quer se dar o trabalho de procurar uma receita de bolo vegano na internet, milhões de pessoas se tornam refugiados do clima a cada ano e milhões de animais perdem a vida e milhões de hectares são desmatados. Eu acho extremamente importante que todo mundo saiba o que está acontecendo para que aquele pedaço de bife possa estar no seu prato”, destaca.

Para uma conscientização, ela comenta que é importante pesquisar e compartilhar conteúdo nas redes sociais. “Tem muita coisa gratuita, acessível, e de fácil compreensão. O Instagram é o melhor lugar para encontrar perfis veganos e vegetarianos dispostos a informar o público. Depois disso, procure os documentários. E consulte um nutricionista vegano, porque qualquer outro profissional vai negar a verdade dos fatos”, comenta.

Sobre mudanças na sociedade no sentido de acolher essa opção de vida, Julia percebe que ocorrem, mas que nem todas são boas. “Redes de fast-food com opção vegana e multinacionais vendendo hambúrguer vegetal ainda são empresas que matam e exploram animais e o meio ambiente. Depois de um tempo no veganismo você entende que aplaudir essas marcas não é suficiente. As melhores mudanças na verdade não são mudanças, e sim iniciativas. As empresas que nascem com o objetivo de fabricar produtos veganos e os microempreendedores que vendem hambúrguer no serviço de delivery devem ser a nossa prioridade como consumidores, que temos um poder imenso nas nossas mãos”, finaliza.

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