Por Jaine Fidler Rodrigues*
Imagem: Pinterest/Astro
A ciência questiona e estuda o ciclo menstrual desde 1930. Porém, um conceito ganhou força nos últimos anos: o sagrado feminino.
Filosofia de vida para alguns e movimento de empoderamento das mulheres para outros, o sagrado feminino é um fenômeno renascido do século XX, na cultura ocidental. Não se sabe ao certo quando, de fato, surgiu. De acordo a escritora Mirella Faur, as civilizações antigas já cultuavam a religião da deusa e o princípio sagrado feminino personificado na Grande Mãe. Hoje ainda há interpretações erradas do que é o sagrado feminino pela ausência de uma matriz ou espaço físico para celebração dos aprendizados.
“O sagrado feminino em sua essência é a busca pelo resgate de referências religiosas e espirituais femininas. É quando a gente entende que não existe só um Deus homem, existe uma Deusa mulher também. Existe uma energia feminina que é importante ser olhada”, explica a terapeuta Marcelle Cordeiro, 22 anos, que há seis busca conhecimentos sobre o sagrado feminino.
A intenção não é ser excludente e trazer apenas figuras femininas, mas ser igualitário. Ou seja, de um lado a deusa mãe e o deus pai.
O sagrado feminino é a busca pelo resgate dos saberes ancestrais dos cultos a deusas, já o movimento do sagrado feminino se caracteriza pelas práticas que possibilitam acessar, por exemplo, maior consciência menstrual. Entre elas estão: o ato de plantar a lua – prática que consiste em devolver o sangue menstrual à terra, ginecologia natural e seu viés de autoconhecimento e estudo das causas das doenças que atingem as mulheres, rodas de conversa e grupos de estudo sobre o sagrado feminino. Em suma, às práticas do movimento-sagrado feminino utiliza a teoria das referências religiosas das deusas.
Segundo a terapeuta, é possível ter uma relação mais saudável e harmoniosa com o corpo e a menstruação. A partir da visão integrativa, a qual une, o olhar para a saúde mental, espiritual e física, é possível entender os sintomas pré-menstruais com outro olhar. “Na verdade, menstruar não dói. Não é para doer. Entendeu?”
É preciso que cada uma entenda o próprio corpo e compartilhe dúvidas com outras mulheres, salienta a terapeuta. “Creio que o meio é utilizar esta linguagem tão natural para todas nós. Falar do movimento, das práticas ancestrais, ervas, recomendações sobre o uso de analgésicos, informações sobre a menstruação consciente e de que menstruar não precisa ser doloroso”.
Pesquisa de 2007 revelou que 62% das 420 mulheres ouvidas relataram sentir dor e desconforto durante o período menstrual. Mais da metade afirmou serem dores intensas, que exigiram o uso de remédios.
Na fase pré-menstrual, conforme a terapeuta, as mulheres acessam vários sentimentos, dores, traumas e crenças. “A TPM é um verdadeiro grito de socorro do seu corpo. Infelizmente, a mulher moderna está desconectada de seus ciclos. Mas não é culpa dela, é todo um sistema que ensina ela ser assim.”
Jovem na vida e no assunto, Nádia Schertz, 19 anos, auxiliar de produção da Zagonel, moradora de Pinhalzinho, conta que há alguns dias iniciou um curso online de ginecologia natural. Para ela, esta prática do movimento do sagrado feminino está relacionada com o aprender a se curar.
“A ginecologia natural, trata do corpo da mulher em si. Aprender a curar uma candidíase, fazer vaporizações de útero até mesmo produzir ou utilizar sabonetes naturais, seguros para a saúde íntima da mulher” destaca.
Histórico: Sociedades matrifocais
Antigamente, era comum encontrar sociedades matrifocais, nas quais as mulheres tinham maior protagonismo. A figura feminina estava no centro da organização social como força criadora.
Na história da Grécia Antiga, as deusas gregas como Gaia, Ártemis, Hera, Décate, foram figuras elementares na mitologia. “Se observava está plena conexão entre a mulher, natureza e a Deusa. Está energia espiritual que estes seres cultuavam”, explica Marcelle.
Em espaços chamados de “Tenda da lua vermelha”, mulheres se reuniam para sangrar livremente, conversar com outras mulheres, ter visões, sonhos. “Essas sociedades respeitavam este momento como importante, porque quando ela voltava com informações, notícias, como a tribo deveria agir. Precisamos caçar aqui, vamos para este território. Então a mulher era vista como este canal entre os mundos”, enfatiza a terapeuta.
(*) Com orientação do professor Hygino Vasconcellos