Por Mônica Guerini*
A situação crítica da pandemia faz o mundo voltar às atenções para o Brasil. E não é por menos: somos o segundo país em maior número de mortes pelo coronavírus. Em março deste ano, duas reportagens do jornal norte-americano New York Times escancararam o cenário caótico do coronavírus em terras tupiniquins.
No começo do mês, o tablóide criticou a ineficiência do governo federal para conter o contágio e alertou para o risco das variantes do novo coronavírus já terem atravessado as fronteiras brasileiras. A publicação norte-americana chegou a classificar o Brasil como “celeiro” para a doença.
Dias depois, outra reportagem mostrou que o Brasil está relatando mais novos casos e mortes do que qualquer outro país do mundo. Segundo o jornal, o colapso é um fracasso total para o país que, nas últimas décadas, chegou a ser considerado modelo para outras nações em desenvolvimento.
Mas a crítica não é apenas do New York Times. Somam-se ao coro outros jornais estrangeiros, líderes políticos de diferentes países e entidade internacionais como a Human Rights Watch que publicou um relatório mundial onde afirma que o presidente Jair Bolsonaro tentou sabotar medidas de prevenção contra a covid-19.
O documento ainda fala que as medidas de fiscalização ambiental foram enfraquecidas, o que contribui para o desmatamento e incêndios na Amazônia que aumentaram cerca de 16% em 2020, segundo matéria publicada pela Folha.
A situação pode acabar interferindo na economia, já bastante afetada com a pandemia, lembra o estudante de relações internacionais da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Douglas Welter Reichert.
“Os investidores e as empresas sempre vão preferir se instalar em lugares mais estáveis, o que não existe no Brasil neste momento. A péssima gestão do governo federal em relação à pandemia, que inclusive foi elencada pelo Instituto Australiano como a pior dentre 98 países analisados, vem apenas para reforçar essa instabilidade. Não é preciso ir longe para perceber esses impactos econômicos recentes, e aí eu posso destacar o fechamento da Ford no Brasil”.
A situação no país pode inclusive afugentar turistas ao país, entende Reichert. Uma das explicações é o risco de contrair a nova variante, descoberta em Manaus. Hoje apenas oito países dentre os 193 reconhecidos pela ONU estão sem restrições de voos para o Brasil. Os brasileiros que desejarem viajar podem tomar como destino apenas o Afeganistão, a Albânia, a Costa Rica, a Eslováquia, a Macedônia do Norte, Nauru, a República Centro Africana e Tonga.
Também ressalta que os conflitos que o atual Governo gerou com alguns países piorou a imagem brasileira.
“A facilidade com a qual Bolsonaro, seus ministros e seus aliados conseguem aparecer “mitando” em cima de figuras políticas relevantes nas redes sociais, é bastante preocupante. Porque isso acaba tendo impacto não somente nessa “imagem” do país de maneira abstrata, mas em um desencadeamento muito mais prático, como transações comerciais entre países, e relações diplomáticas […] e um caso relevante para se refletir são os ataques constantes a China, que atualmente é a maior parceira comercial do Brasil e é o destino de em torno de 32% das importações brasileiras”.
Segunda Onda da Covid-19 no Brasil
A demora para a população ser vacinada pode inclusive dar espaço para o surgimento de novas variantes do vírus, entende o químico, doutor em biomedicina e professor da Unoesc, Marco Aurélio Echart Montano. “Quanto mais tempo demorar para imunizar a população mais tempo o vírus tem de sofrer mutações, porque seu genoma é bastante instável, e dentre uma destas tantas mutações a seleção natural pode escolher uma que seja vantajosa para o vírus”.
Outro fator preocupante, é a rápida disseminação do vírus. “À medida que um vírus se reproduz fazendo cópias de si mesmo, gera “erros” em seu genoma que são transferidos para futuras cópias do vírus. O coronavírus, assim como outros vírus, tem em sua composição um RNA, que são moléculas “propensas a erros”, por isso acumulam mutações em cada ciclo de cópia”.
Imunidade comprometida e infecção longa podem ser explicação para mutações
No Reino Unido, um paciente de 79 anos foi infectado pelo covid após passar por quimioterapias para tratar um linfoma. Com o sistema imune comprometido, nenhum medicamento surtia efeito e então os médicos resolveram aplicar o plasma de convalescente, uma transfusão de sangue na qual são transmitidos os anticorpos de uma pessoa curada da covid-19 a um paciente em difícil recuperação. Apesar do tratamento, o homem morreu após 102 dias de contágio. Porém, os cientistas observaram que o vírus havia desenvolvido mutações para “escapar” dos anticorpos.
“Ainda não está claro quais são exatamente as fontes dessas variantes no momento. Pacientes imunocomprometidos podem ser uma delas porque tendem a acumular múltiplas mutações dentro de si”, explica Montano.Cientistas brasileiros já comprovaram a infecção por duas variantes do Sars Cov-2, e outra preocupação seria o surgimento de linhagens capazes de driblar a eficácia das atuais vacinas.
(*) Com orientação do professor Hygino Vasconcellos