Por Fernanda Hinning*
A auxiliar de enfermagem Ceonara Balen acabara de sair do trabalho, na Unidade Básica de Saúde após tratar pacientes com Covid-19. Ao estacionar o carro no supermercado, deparou-se com uma paciente que há poucos minutos tinha descoberto que estava positivada para o coronavírus. Mesmo com o diagnóstico, a mulher resolveu fazer compras e saía do estabelecimento carregada com sacolas. Ceonara não pensou duas vezes e foi confrontá-la.
“Eu falei para ela que era por causa de gente como ela que a situação está como está. Que a gente estava indo trabalhar com medo de morrer e de quem pode morrer por gente como ela”.
O caso aconteceu em 27 de fevereiro em Pinhalzinho, no oeste catarinense, e ganhou repercussão nacional. Surpresa, a mulher pediu perdão para a profissional de saúde, arrependida. A mulher infectada é professora do município. Em nota, a Secretaria de Saúde informou que iria dar os encaminhamentos para a professora que descumpriu o isolamento.
A situação flagrada pela auxiliar de enfermagem não é pontual. Na verdade, se repete dia após dia por parte da população que encara o coronavírus com desdém e ignora a gravidade da situação. Doze dias após o incidente, foi aprovada uma lei em Pinhalzinho que penaliza em R$ 1 mil quem descumprir o isolamento. Os positivados com coronavírus que forem flagrados na rua, terão que pagar a multa e serão escoltados para casa. Além disso, uma força tarefa organizada pela prefeitura em parceria com a Polícia Militar tem feito visitas às casas dos doentes para verificar se estão cumprindo o isolamento.
Enquanto nas ruas o descaso perdura, dentro dos hospitais e unidades de saúde o clima é de tensão, com pacientes morrendo enquanto aguardam leitos de UTIs, número alto de óbitos e funcionários esgotados.
A indignação da auxiliar de enfermagem também tem outra explicação: há profissionais de saúde perdendo a vida à doença. O Conselho Regional de Enfermagem de Santa Catarina (Coren-SC) organizou um memorial das vítimas da Covid-19. Segundo a página, 24 profissionais morreram por coronavírus. Porém, o número pode ser maior, já que ali constam apenas casos informados à entidade.
A explicação estaria nas próprias unidades associada a alta circulação do vírus. Com mais pacientes infectados com a doença, os hospitais se tornam um lugar ainda mais suscetível à transmissão do coronavírus. Não que isso não acontecesse antes. Porém, com mais pessoas internadas, as chances são maiores.
Em Nova Itaberaba, município também localizado no oeste, o primeiro paciente a morrer por covid teria contraído a doença no próprio hospital. “O paciente fez cateterismo na sexta-feira (12) em Xanxerê e na segunda-feira dia 15 foi para a unidade de saúde. Infelizmente ele foi diagnosticado com Covid, foi transferido para HRO, mas ele não resistiu. A transmissão provavelmente ocorreu na área hospitalar”, disse a secretária de Saúde, Marinês Zamboni. O óbito do idoso de 78 anos ocorreu em 24 de fevereiro.