As Bodas de Prata são como as páginas de um livro repleto de histórias, palavras e imagens, que ao longo de vinte e cinco anos partilham do saber. Nesse contexto, este ano celebra o compromisso, a busca pela verdade e o impacto transformador das palavras que moldaram o conhecimento e a comunicação dentro da universidade. E para finalizar com chave de prata essa série de festividades, na penúltima sexta-feira do mês de outubro (20), os corredores da Unochapecó, mais especificamente os pertencentes ao Bloco F, se encheram de nostalgia que levaram a uma quebra de tempo, entre os anos de 1998 e 2023.
Tinha-se o planejamento inicial de dois eventos especiais. O primeiro consistia em uma homenagem a ex-coordenadores, professores, técnicos e estudantes durante a Feira Efapi, enquanto o segundo era o Reconecta. Inicialmente, o Reconecta estava previsto para ser apenas esse encontro com a primeira turma do curso. Evento que foi tão bem aceito pelos pioneiros que até recebeu o apelido carinhoso de “Aula da Saudade”. No entanto, sua natureza evoluiu, culminando na ideia de realizar um jantar, que ocorreu no mesmo dia, e contou com a presença de vários egressos e acadêmicos que passaram pelo curso no decorrer desses 25 anos de história.
A noite foi de muitos sorrisos e lágrimas de nostalgia. Desde o momento que chegaram ao estacionamento da universidade e desceram de seus carros, os egressos da primeira turma de Jornalismo fizeram uma viagem no tempo e regressaram aos seus anos de academia. A diferença entre os acadêmicos atuais e os egressos já se percebeu no horário de chegada. A maioria chegou antes do horário previsto, o que possibilitou uma visita aos laboratórios utilizados no decorrer da graduação. Parecia que estavam em seu primeiro dia de faculdade, olhando para as “novidades” que são hoje realidade para os mais jovens estudantes.
O que os trouxe ao solo universitário, foi a ação alusiva aos 25 anos do curso, organizada pelo Núcleo Docente Estruturante (NDE) do curso. O grupo de professores levantou que nunca havia sido realizado nada do tipo com a primeira turma, e que já era hora de promover um reencontro para relembrar e homenagear os estudantes pioneiros. O jornalista José Ricardo Campos de Araújo, o Zequinha, fala da emoção que foi chegar e encontrar seus ex-colegas, pois a correria da vida adulta não permite que tenham o hábito do reencontro. “Alguns de nós não se viam há anos. Hoje em dia, a situação é consideravelmente mais complexa. Todos nós construímos famílias e estamos imersos em agendas de trabalho exigentes. Esse encontro foi, na verdade, uma iniciativa do curso de Jornalismo, pela qual devemos expressar nossa gratidão”.
Desde o início, essa turma se reunia fora do ambiente universitário, conversava e se encontrava nas casas da professora Ilka Goldschmidt Vitorino e do professor Dirceu Hermes, bem como na residência de alguns acadêmicos, mais velhos, e consequentemente, financeiramente estruturados. A coesão do grupo era notável, e a convivência era muito agradável. Dirceu, um dos ministrantes das aulas de Jornalismo desde a primeira turma, afirma que essa ideia partiu de uma nostalgia dele mesmo. “Tomado pela emoção, essa é a sensação que tive ao reencontrar os egressos do curso. Muitas histórias para lembrar de um bom convívio, até porque muitos de nós tivemos uma relação de amizade e companheirismo tanto profissional quanto pessoal. Rever as pessoas e suas trajetórias dentro do curso valeu muito a pena”.
Foi o momento em que o curso e os professores se reconectaram com os egressos, avaliando o impacto de seu trabalho na vida pessoal e profissional dos jornalistas. Alguns ex-alunos seguem na área, atuantes nos diferentes meios de comunicação, enquanto outros usaram o conhecimento para investir em diferentes áreas. Dirceu ficou impressionado pela maneira com que o curso impactou a trajetória destes egressos. “É certo que o jornalismo foi um marco na vida destas pessoas”.
Não foi nada fácil reunir uma turma de universidade 25 anos depois do início de sua formação. Infelizmente, alguns não estão mais entre nós. Outros perderam o contato com os colegas. E ainda, alguns não tiveram disponibilidade de agenda para participar da atividade. Além de ser desafiador localizar e convergir as agendas para este momento especial. Mas todo esse trabalho resultou num momento emocionante e nostálgico. Até mesmo para o atual coordenador do curso, Franscesco da Silva, que não vivenciou com a turma nessa jornada e conhecia poucos deles. “Foi notório o carinho da turma pelo curso, pela sua história e também pelo jornalismo”. Histórias e lembranças não deixaram de aparecer nas conversas que ecoavam pelos corredores dos arredores da Sala Conexa, que pertence aos cursos que integram a Escola de Comunicação e Criatividade.
José Ricardo Campos de Araújo, foi uma dessas pessoas que chegou com antecedência e aproveitou para percorrer os espaços da Universidade. Ao visitar a Agência de Comunicação Integrada de Jornalismo, percebeu que o pessoal estava preparando os últimos detalhes de uma homenagem que, posteriormente, seria concedida a cada membro da primeira turma. Por coincidência do destino, seu certificado de “Pioneiro do curso de Jornalismo” era o do topo da pilha, e a primeira coisa que ele fez foi questionar o porquê de terem colocado aquele nome que nem ele reconhecia. “Meu nome é Zequinha. No curso ninguém me conhecia pelo nome. Fui atleta profissional de futsal, que na época chamava futebol de salão, então professores e colegas me conheceram por esse apelido”.
A primeira turma assumiu a missão de elevar o padrão profissional do jornalismo nas redondezas de Chapecó, uma vez que não havia oferta de ensino superior nessa área até então. A partir desse ponto de partida, uma série de desenvolvimentos positivos ocorreu na região, já que muitos egressos ampliaram suas perspectivas e ultrapassaram fronteiras. Hoje, vários ex-alunos ocupam posições em diversas emissoras de televisão, rádio, jornais, revistas, portais e assessorias de comunicação na região Oeste, e muitos deles também se envolveram em empreendimentos relacionados à área. “É uma transformação real, perceptível e que ainda promete gerar mais resultados positivos na sociedade, promovendo um jornalismo qualificado e ético, preocupado com o público, com a manutenção da democracia e com as liberdades do nosso povo”, argumenta Franscesco.
Uma turma que se adaptou aos desafios que abarcam a instalação de um novo curso, do zero, sempre se acolheu e foi crescendo junto. Com um canapé de queijo com damasco nas mãos, e os olhos marejados de saudade e nostalgia, Deizy Marcon relembra dos momentos vividos com seus colegas. “Ah, os corredores, os bancos ali fora, houve muita choradeira neles. As paixões na universidade, as provas, os trabalhos, as questões de gravações de tele e rádio. São coisas que a gente sempre lembra, né!”. Zequinha complementa que essa oportunidade mexe com o coração de todo mundo, “não esqueço de ver eles entrando aqui, eu já tinha trinta e alguma coisa, mas eles tinham tudo na faixa de dezoito aninhos”. Ele ressalta o quanto foi enriquecedor essa troca de experiências, “às vezes tinha papo de namorado, iam me perguntando como funcionavam essas coisas, era muito bacana. Além de tudo, a convivência foi muito boa”.
Deizy conta que foi muito emocionante chegar aqui, reencontrar, trocar ideias, relembrar os momentos universitários com o pessoal. “Também estava animada por poder trazer minha filha, porque logo ela vai estar numa universidade e a Unochapecó é uma universidade que estamos mapeando para ela estudar”. Enquanto mostrava a universidade para sua filha, Deizy aproveitou para dar umas voltas pelos corredores e laboratórios. “Ver as carinhas, que por mais que tenham se passado 25 anos, as pessoas são iguais. Isso que é bonito, você perceber que são as mesmas pessoas que a gente conheceu lá atrás, lógico, com muita angústia naquela época, e perceber que você não tá só, que o que você passou, eles também passaram. Acho que é por isso que vem muita identificação”.
Mais tarde, Zequinha conta que uma das memórias mais marcantes que tem da época que estudou aqui, foi a implantação do curso e a maneira com que essa foi uma turma que se uniu. “Fomos nós que acreditamos no curso de Jornalismo. Quando a gente chegou não existia laboratório nenhum, não tinha nada, nada, nada. Era só professor e teoria na sala de aula. Não tinha nem máquina fotográfica, não tinha absolutamente nada. Depois que começou a correria, a montagem das coisas. Então, tudo o que foi acontecendo, todos esses momentos, a gente pode participar desde o início, até a implantação de tudo o que se tem hoje. Acho que isso é o mais marcante para mim”.
Um dos desafios que mais marcaram os pioneiros do Jornalismo Uno daquela época foi montar o curso. “A gente acreditou. Era o que a gente queria, mas, quando chegamos, não sabíamos que não tinha nada de estrutura. Então nos reunimos com os professores e, através de conversas com o reitor da universidade, reivindicamos nossas necessidades. A mobilização partiu dos professores e nós abraçamos o movimento todo para que vocês possam curtir a estrutura que a Uno oferece para o Jornalismo nos dias de hoje”, conta Zequinha.
Deizy ressalta que naquela época, sendo parte dos primeiros estudantes de Jornalismo nas redondezas, enfrentavam desafios significativos que deixaram um impacto tanto em suas carreiras quanto em suas vidas pessoais. “Por ser a primeira turma de profissionais no mercado de trabalho, principalmente, donos de empresa, não se sentiam tão confortáveis. Então, a gente nem sabia como o mercado iria estar ao finalizarmos a graduação, se ele iria nos absorver ou não”. Deizy reforça que a falta de estruturação que o curso tinha na época também foi desafiadora, “mal tínhamos laboratórios, muito menos equipamentos. Então, às vezes o curso falhou em alguma experiência, mas o essencial eles tinham dado. Quando começamos a dar a cara a tapa, os contratantes compreenderam que tínhamos uma base diferente daquele jornalista provisionado, – que era o termo que se usava na época para se referir a quem exerce a função de jornalista sem ser graduado – eles percebiam que o profissional formado tinha um diferencial no mercado. E aí, devagarinho e aos poucos, o mercado foi abrindo as portas”, frisa.
“Os estudantes chegaram para começar sua formação profissional e nós, professores, tivemos o desafio de colocar o curso para andar”. Essas são as palavras que Dirceu usa para expressar a cumplicidade criada entre corpo docente e discente. O professor ainda ressalta a maneira que o jornalismo impactou a vida destes profissionais. “Por outro lado, a sociedade é a mais beneficiada quando se amplia a qualificação das informações e o exercício de um jornalismo comprometido com a ética, responsabilidade e com a liberdade de imprensa, o que fortalece a democracia”. Dirceu ainda afirma com orgulho que desde a implantação do curso, é perceptível a evolução da comunicação na região. “Uma imprensa forte, com responsabilidade e compromisso com a sociedade, é uma conquista social”.
A mensagem que Deizy deixa para as gerações de estudantes de Jornalismo que estão ingressando em sua jornada acadêmica é para acreditarem. “Se você realmente gosta, isso não depende de quem você era antes de chegar na universidade, é de quem você quer se tornar”. A egressa ainda aconselha os acadêmicos a aproveitar as experiências, tanto as de estudo, quanto de convivência “desse momento jovem, de você curtir a vida de formas diferentes, porque esses laços e esse conhecimento te levam aonde você quiser. Eu era uma menina de 17 quando iniciei a graduação, aos 21 anos, formada, com filho e não sabia para onde iria, mas o mercado foi se abrindo. Nem sempre naquilo que sonhava, mas o foi aparecendo e hoje eu penso que estou onde aquela menina gostaria de estar e me sinto bem realizada. E eu sou uma entusiasta, então sempre direi: Siga. Faça. Vale a pena! É sofrido, o mercado é competitivo, mas se você é um bom profissional e você deseja isso o teu espaço vai tá garantido”, finaliza.
O curso de Jornalismo foi fundamental para as mudanças que aconteceram internamente na vida de Zequinha. “Uma coisa dentro do jornalismo que acho que todos deveriam ter, que é: não existe só uma verdade. Então, que eles sempre lembrem e busquem isso. É o que eu carrego para mim desde sempre, e durante o curso de Jornalismo eles vão compreender isso”. O egresso traz a observação de que atualmente há uma tendência das pessoas enfatizarem suas próprias verdades, “enquanto o jornalismo me ensinou a importância de ouvir todas as partes envolvidas. Essa experiência foi notável e teve um impacto significativo na minha abordagem atual em relação a diversos assuntos”, finaliza.
Fita VHS
Ao longo dos últimos 25 anos, profundas transformações ocorreram no campo jornalístico, e essas mudanças exerceram um impacto significativo na maneira de ensinar jornalismo. Durante esse período, a docência pode acompanhar a evolução dos meios de comunicação e o perfil dos estudantes, refletindo as gerações influenciadas pelos novos formatos midiáticos e, como resultado, pelas novas formas de apropriação do conhecimento.
“Testemunhamos a transição do mundo analógico para o digital, uma revolução que reconfigurou as práticas e os processos no jornalismo”, comenta Dirceu. Para que essas mutações expressivas tenham consistência, precisa-se reconhecer a expressividade do ponto de partida, que fundamentou toda a caminhada. Tendo essa lógica em mente, o ápice da noite se revelou na projeção de antigas gravações, armazenadas e reproduzidas em VHS, remontando aos dias em que os pioneiros da primeira turma, ávidos por aprimorar suas técnicas diante das câmeras. A sala Conexa, palco do evento, ecoou com gargalhadas que quase abalaram suas estruturas e contagiavam qualquer um que estivesse presente.
Dirceu conta que foi possível recuperar arquivos de vídeo das primeiras experiências audiovisuais da turma. “A revisão dessas imagens e das situações que marcaram nossas práticas jornalísticas foi, inegavelmente, uma experiência emocionante”. Essa emoção do reencontro e o despertar da necessidade de reconexão foram evidentes. “Sem dúvida, esse dia não será a única ocasião memorável, pois mais encontros virão, impulsionados por sua iniciativa”, salienta.
De acordo com o coordenador do curso, Franscesco, esse momento foi fundamental para que o curso mantenha viva a relação com os egressos. O compartilhamento de histórias e experiências são de extrema importância para fortalecer os laços e partilhar a paixão pelo jornalismo. “Tanto o curso quanto os profissionais continuam aprendendo, se desenvolvendo, e esse contato serve também para nos atualizarmos”, ressalta.
Passe a Folha
Uma turma que sempre foi bastante participativa e unida em tudo, desde sentar e chorar nos corredores da Uno, até na organização das primeiras viagens de estudo e eventos com a participação de nomes importantes do jornalismo brasileiro. São muitos momentos, mas nada se compara a folha que passava de mão em mão, sem que os professores pudessem imaginar do que se tratava.
A brincadeira foi proposta por Emmanoel Lourenço. Começou de forma simples, em que ele escreveu algo em uma folha e passou para outra pessoa para continuar a escrita. Logo, essa ideia se espalhou, e todos começaram a passar folhas uns para os outros. Essa prática era uma espécie de versão escrita do jogo do telefone sem fio. O Passe a Folha era identificado por um papel em branco com a inscrição “Passe a Folha”, e cada participante acrescentava uma frase, um tópico ou uma nova contribuição antes de passá-la adiante. “Éramos brincalhões, e foi um momento de diversão para todos nós, embora tivéssemos muitas responsabilidades. É gratificante observar o quão longe essa brincadeira chegou e o que ela se tornou”, conta Deizy.
À medida que o tempo avançou, a semente do “Passe a Folha” germinou no Jornal Passe a Folha, um dos valiosos produtos midiáticos proporcionados aos estudantes de jornalismo durante sua jornada acadêmica. Esse periódico permite que os alunos vivenciem a experiência completa de criar um jornal, participando ativamente em todas as suas multifacetadas funções, abraçando os desafios inerentes a essa prática.
“Chegar aqui e deparar-se com uma edição especial do Passe a Folha, que teve origem com a nossa turma, é uma experiência bastante gratificante. Éramos alunos de uma época anterior à era digital, dependíamos do meio analógico, sem grupos de WhatsApp para discutir os acontecimentos universitários, vulgo fofocar”. Deizy ainda conta que possui a última edição do Jornal Passe a Folha produzido por sua turma na universidade, e que tem por ela grande apreço.