Produção leiteira: pandemia e estiagem afetam o setor

Por Katlen Karczewski*

A silagem de milho é o principal alimento ingerido pelas vacas leiteiras.
Foto: Katlen Karczewski.

Com a pandemia de Covid-19, diversos segmentos econômicos foram afetados, direta ou indiretamente. A agricultura não passou ilesa, sobretudo a cadeia produtora de leite.

Além da pandemia, no último trimestre de 2020 uma forte estiagem atingiu a região Extremo-oeste de Santa Catarina, afetando a produção de grãos, principalmente o milho e a soja, base da alimentação do gado. O dólar alto acabou elevando o custo dos insumos, em especial aqueles que possuem grãos em suas composições, o que deixou a situação mais difícil para o setor.

De setembro de 2020 a fevereiro deste ano, o valor pago pela indústria aos produtores variou de R$ 1,79  para R$ 1,52 o litro do produto, segundo dados do Sindileite-SC. O agricultor de São Miguel do Oeste (SC) Seno Persch, trabalha no ramo há mais de 20 anos e observa que os valores não pagam os custos de produção.

“Essa variação nos impacta bastante, porque a queda no preço do leite não acompanha os valores dos insumos, que continuam altos. Além disso, não sabemos o que está por vir e nosso trabalho com as vacas é contínuo e precisa de investimento. Já passamos por momentos muito difíceis, eu e minha família, mas essa fase atual está castigando”, complementa Persch. 

Variações nos valores pagos aos produtores de leite gera instabilidade no setor. 
Foto: Katlen Karczewski.

Por outro lado, a indústria também sofre impactos. O diretor da Cooper 25 de Maio, indústria de processamento de leite de São Miguel do Oeste, Adelar Bavaresco, percebeu oscilação no consumo desde o início da pandemia. “No início da pandemia, as vendas diminuíram de forma considerável, em maio voltaram a subir, porém a partir de setembro despencaram novamente”. 

Segundo Bavaresco, a redução significativa pode ter relação com mudanças nos valores pagos pelo auxílio emergencial provenientes do governo federal. De maio até o início de novembro de 2020, as famílias brasileiras puderam adquirir produtos que não estavam nas cestas básicas, como leite e derivados. Porém, a partir de dezembro do ano passado, com a redução pela metade do auxílio, e posteriormente a paralisação deste programa, os consumidores precisaram dar preferência a itens essenciais, diminuindo a compra dos laticínios.

Em 2021, mesmo com o dólar alto, o cenário começou a melhorar para o setor leiteiro. A região voltou a ter regularidade de chuvas, o que manteve em pé as plantações base da alimentação do gado. Porém, as vendas nos supermercados continuaram estagnadas. “Ficamos com muitos produtos no estoque, sem conseguir vender e sem perspectivas de melhora”, descreve Bavaresco.

Com uma visão mais geral do setor, o diretor da Cooper 25 de maio aponta que o aumento nos índices de desemprego e a insegurança do consumidor em gastar dinheiro, causados pela pandemia, também repercutiram no setor. “É uma cadeia produtiva, portanto o que impacta um patamar reflete nos outros. No nosso caso, a baixa procura nos supermercados abala as nossas vendas, e consequentemente, reflete nos valores pagos aos produtores”, argumenta o diretor da cooperativa. 

Os valores de referência divulgados pelo Sindileite-SC apontam que haverá um pequeno aumento para os produtores, com base na produção de março. O litro de leite ficará no índice de R$ 1,55. É um aumento pequeno, mas que se continuar evoluindo nos próximos meses renova as esperanças dos agricultores. “É um momento de insegurança, mas precisamos pensar que dias melhores virão, que vamos recuperar as vendas e o setor irá se estabilizar novamente”, finaliza Adelar.

(*) Com orientação do professor Hygino Vasconcellos

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