A relação entre vivência, linguagem e subjetividade foi o ponto de partida da palestra “Experiência como método e Interseccionalidade como Episteme na Comunicação”, ministrada pela Professora Doutora Fernanda Carrera (UFRJ), na noite desta quinta-feira (3), no Salão Nobre da Unochapecó, durante o Intercom Sul 2025. A atividade instigou o público a refletir sobre como diferentes marcadores sociais, como gênero, raça e classe, atravessam e influenciam os modos de produção e análise do conhecimento em comunicação.
A professora destacou que, embora a interseccionalidade seja um conceito já bastante difundido, ainda há desafios em compreender sua complexidade no campo comunicacional. “A gente pode ser atravessado por diversas matrizes digitais de opressão e de privilégio, mas algumas ganham centralidade em determinadas situações. Então, é um método situacional, contextual”, afirmou.

Estudos de mídia
Com base em exemplos de estudos de mídia, Fernanda explicou como uma abordagem interseccional pode modificar significativamente a interpretação de determinados fenômenos. Ao citar o caso de reportagens sobre mulheres presas com drogas, ela apontou como o apagamento da palavra “traficante” em certos contextos revela mais do que uma análise de gênero.
“Tem uma diferença se a gente aciona na análise das matérias também a questão racial e de classe, não só de gênero, especificamente. Então, quando a nossa análise é interseccional, ela vai nos dar um endereçamento diferente para os achados. Ela vai acionando camadas de significação que vão redirecionando nossas conclusões”.
A interseccionalidade, segundo a pesquisadora, permite visualizar as múltiplas formas de desigualdade de forma integrada, algo essencial para compreender como certos discursos são legitimados ou invisibilizados nas trocas sociais. Para ela, é nesse ponto que a experiência se revela não apenas como objeto, mas como método.
“Vai ser a diferença que vai construir as lentes através das quais a gente olha para os nossos objetos de pesquisa. Quando falamos em mídia, representação, discurso, performance, consumo, falamos de modos de inscrição simbólica de sujeitos que são atravessados por relações interseccionais. Porque vão ser sujeitos concretos, vão ser pessoas que têm carne, deslocamentos, que têm estratégias comunicacionais, que vão revelar para a gente tensões da linguagem, vão revelar para a gente as vestes do discurso, os desvios da norma”, explicou a professora.
Intercom Sul 2025
A palestra fez parte da programação oficial do Intercom Sul 2025, um dos maiores congressos de comunicação da região Sul, que nesta edição foi sediado pela Unochapecó. Ao reunir estudantes, professores e pesquisadores de diversas instituições, o evento se consolidou como um espaço de troca, aprofundamento teórico e valorização de práticas acadêmicas que dialogam com a realidade social.
Texto: Nycoli Ludwig
Foto: Gabriel Borges