Por Amanda Ferreira Cardoso*
Um clássico de futebol dividiu por mais de 40 anos a cidade de Erechim, no interior do Rio Grande do Sul. De um lado ficavam torcedores do Clube Esportivo e Recreativo Atlântico (C.E.R Atlântico), criado em 1937, e de outro do Ypiranga Futebol Clube, fundado em 1924. Chamada de Atlanga, a partida entre os dois times rivais chegou ao fim em 1976, mas ainda é lembrada nos dias de hoje.
O clássico
Em 25 de abril de 1937 ocorreu o primeiro Atlanga. O clássico foi disputado em forma de torneio municipal no Km 10 da estrada para o município de Getúlio Vargas. O Ypiranga venceu seu maior adversário, o Atlântico, por 3 a 0 no primeiro jogo do clássico. Naquele mesmo ano, em outro torneio realizado em 4 de julho, o zagueiro Zill, marcou o único gol da partida que deu a vitória para o Atlântico.
Durante os 40 anos de clássico, ocorreram 175 confrontos entre os dois times rivais de Erechim. O Atlântico venceu 77 vezes contra 57 partidas ganhas pelo Ypiranga. E outros 41 jogos terminaram empatados. Ao total, o time verde-rubro marcou 264 gols, já o Ypiranga balançou as redes 232 vezes.
A rivalidade
O Atlanga dividia a cidade de Erechim. Nas semanas de jogos do clássico, um dos maiores cafés da cidade tinha os atlantistas sentados à direita e os ypiranguistas à esquerda. No meio ficavam simpatizantes da terceira força do futebol municipal, o 14 de Julho, que hoje a sede é utilizada como Centro de Eventos no município.
Outro fato curioso é que, em 1953, o goleiro Miguel Subtil dos Anjos recusou-se a defender um pênalti durante uma partida do clássico, por discordar do entendimento dos árbitros. A explicação: o jogador atuou em ambos os times. O atacante Alexandre Linkievicz, do Atlântico, realizou a cobrança e a bola foi para o fundo das redes enquanto o goleiro estava sentado no “pé” do travessão.
“Por volta dos anos 1960, quando eu tinha meus 7 anos de idade, comecei a compreender o significado do clássico Atlanga. Meu pai era torcedor do Ypiranga e me levava ao Estádio da Montanha, que pertencia ao Ypiranga onde hoje é a Rua Bento Gonçalves. Esse clássico movimentava a cidade toda, já que na época, não havia televisão e internet, somente o futebol e cinema. E a cidade se dividia entre os torcedores do Ypiranga (chamado de Canarinho) e os torcedores do Atlântico (chamado de Galo). Na semana que antecedia o clássico, as rádios não paravam de falar no acontecimento, gerando um clima de expectativa muito grande”, relembra o ex-presidente do Ypiranga e atual vice-presidente da Federação Gaúcha de Futebol, Antonio Luiz Dal ´Prá.
Uma partida memorável
O clássico Atlanga mais inesquecível ocorreu em 12 de novembro de 1961, no antigo Estádio da Montanha. O Ypiranga precisava empatar a partida para conquistar a taça do campeonato. Os donos da casa abriram o placar aos 9 minutos de jogo. No segundo tempo o lateral-direito e o zagueiro do Atlântico lesionaram-se, como naquela época não havia substituição um deles deixou o campo e o outro seguiu na partida apenas para compor o time.
“Faltando 10 minutos para o fim da partida um atacante do Atlântico é expulso, restando apenas oito jogadores em campo. Índio era atacante do Atlântico e, aos 37 minutos, dribla três zagueiros do time adversário e empata o clássico. O Ypiranga ainda era campeão com o empate. Mas aos 42 minutos o impossível aconteceu, Índio passou por seu marcador, driblou o lateral e entrou na saída do goleiro, dá um leve toque na bola e vira o placar: Atlântico 2 a 1. Durante a comemoração o atacante desmaia. O Atlântico se fecha e ao apito final a torcida invade o gramado”, escritor do livro “Atlanga 40 anos de emoções”, José Adelar Ody.
O fim do clássico
Por problemas financeiros, o Atlântico encerrou as atividades. “O futebol profissional é uma atividade econômica por si só inviável financeiramente. No local do estádio foi construído um grande parque esportivo, encerrando assim a atividade de futebol profissional, e por consequência, o clássico Atlanga chegou ao fim”, afirmou Dal’Prá.
O Atlântico virou um clube profissional de futsal, com projeção nacional. Já o Ypiranga segue no futebol.
(*) Com orientação do professor Hygino Vasconcellos