Claudia Eduarda Schverz*
Milenar, a moda está no nosso dia a dia. Porém, ainda é uma das indústrias que mais polui. Em 2018, foram emitidos cerca de 2,1 bilhões de toneladas métricas de gases de efeito estufa pela cadeia da moda global, segundo a Global Fashion Agenda, principal fórum para colaboração da indústria e cooperação público-privada na sustentabilidade da moda. No mesmo ano, o Brasil produziu cerca de 5,1 bilhões de roupas, enquanto uma pesquisa do Ibope Conecta para a OLX em 2016 apontou que quase 70 milhões de brasileiros têm itens sem uso em casa.
Na contramão disso, tem ganhado força a filosofia da moda consciente que preconiza o mínimo impacto no meio ambiente no momento de produção, aquisição e manutenção das peças de roupa.
Para aderi-la, a recomendação inicial é fazer uma autoavaliação. “É muito mais a respeito de como você consome, quais são as suas fontes, de onde você aprendeu, como você pensa, qual seu estilo de vida. Todo esse contexto te faz realizar a compra. Não é possível praticar uma moda sustentável se você não tem consciência sobre o seu consumo”, completa a designer de moda Gabrielle Mainardi da VerdeNovo.
Mas a tarefa de consumir moda com responsabilidade não é simples. É preciso mudar o estilo de vida e quebrar paradigmas que já estão enraizados na nossa forma de consumir. Recusar o exagero, dar um novo uso para roupas guardadas e doar o que não é usado, são atitudes que grande parte da população mundial não toma porque estão acostumados a consumir no modo automático. “Às vezes parece uma coisa tão simples. ‘É só uma peça de roupa’. ‘Quero uma roupa nova’. Mas não paramos para refletir a cadeia que existe por trás”, entende a profissional.
Segundo Gabrielle, a moda sustentável é baseada em três pilares: sociedade, meio ambiente e economia. O social é quando seu empreendimento de moda está envolvido em causas sociais, ajudando a sociedade através de ações e projetos. Na questão ambiental é quando se busca caminhos menos poluentes para a produção, diminuindo os impactos no meio ambiente. E o âmbito econômico é voltado para a diminuição de poluentes e de descartes e para a geração de empregos pautada na valorização do funcionário.
“Não é um mercado que está conseguindo dar o giro e daqui alguns anos não sabemos onde vamos colocar todo esse lixo. Acho legal quando os ativistas publicam motivos para não comprar uma calça jeans, por exemplo, e um deles é que pra fazer uma única calça jeans são gastos mais de três mil e quinhentos litros de água”, afirma a consultora.
Políticas públicas podem ser grandes aliadas para promover uma revolução na cadeia de produção. “Tendências não levarão a uma indústria da moda sustentável. A legislação levará”, entende Alden Wicker, jornalista norte-americana especializada na cobertura do tema e fundadora do site EcoCult. Para ela seria necessário regulação ambiental, incentivo à ciência para criação de produtos menos agressivos e preparação de trabalhadores mais conscientes.
Brechós têm cada vez mais adeptos
Tendência entre as gerações mais novas, os brechós estão expandindo seu público e conquistando cada vez mais adeptos. É possível encontrar brechós de troca direta no Facebook e empreendimentos de roupas de segunda mão no Facebook. Segundo um levantamento feito pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), seis em cada 10 consumidores compraram algum item de segunda mão entre 2018 e 2019.
“Existe uma série de fatores que atraem as pessoas aos brechós. O preço é mais acessível, o atendimento é atencioso, faz bem ao meio ambiente, além de estar na moda com o resgate de antigas tendências” afirma Werison. A maior parte do segmento se preocupa em adquirir peças únicas e atemporais para a venda, oferecendo roupas originais e de qualidade. “Roupas antigas tem história e personalidade. Sempre temos aquela peça preferida, que cuidamos com carinho. Porque não ser uma carregada de significados?”, conclui o estudante.