Biomédico alerta sobre prática da auto hemoterapia
Por: Caroline Raquel Schuh
Sem eficácia comprovada, a auto hemoterapia gera preocupação da comunidade científica. Para o biomédico e farmacêutico Régis Carlos Benvenutti, o risco de reinjetar o próprio sangue semanalmente pode levar a problemas como inoculação de microorganismos, infecções, necrose tecidual, dermatite entre outros. Na entrevista abaixo, ele diferencia a técnica nova e outra secular.
Onde e quando surge o conceito de hemoterapia?
A hemoterapia é um procedimento consagrado que teve a primeira experiência em 1818, na Inglaterra. Posteriormente, teve a sua melhora a partir da descoberta do sistema ABO (classifica grupos sanguíneos em tipos A, B, AB e O), do sistema fator RH positivo e negativo, a partir do período científico, quando tivemos a descoberta do microscópio que serviu para se ter a visualização das células sanguíneas.
Por ser uma técnica consagrada e antiga, ela tem suas funções. Quais seriam?
A hemoterapia é uma prática comum, rotineira na clínica médica e de extrema importância. Ela é comprovada cientificamente e utilizada para tratar distúrbios como anemia, leucemia, choque circulatório, quando há poucos elementos circulando nos vasos sanguíneos, e tudo isso já é consagrado. Tem uma relevância científica enorme.
E qual a diferença entre a hemoterapia e auto hemoterapia?
Quando adentramos os termos da auto hemoterapia, nós pisamos em um campo diferente. A auto hemoterapia é uma prática onde os defensores falam sobre a inoculação de sangue venoso no sistema muscular. Isso quer dizer o quê? É retirada alguma quantia de sangue, 05 ml aproximadamente, e introduzido em músculos como o glúteo ou músculos do braço. Segundo esses defensores, essa prática promoveria um aumento na melhora do sistema imunológico a partir da chegada de mais macrófagos (células de defesa do organismo que atuam no sistema imunológico), células sanguíneas presentes nos tecidos. Isso melhoraria a resposta imunológica em inúmeros distúrbios.
Existe comprovação científica sobre esse tratamento?
Cientificamente, tanto nas discussões que temos nos artigos publicados no Polimed e também a partir do que a gente entende, quando você introduz um sangue venoso no músculo esperando um aumento da resposta imunológica, não há como tratar uma doença chamada auto imune, que é quando se tem uma resposta exacerbada da imunidade contra as células próprias. É indicado para doenças auto imunes como é o caso de esclerose múltipla, artrite reumatóide, quando pacientes na prática clínica utilizam corticóides ou outras drogas imunossupressoras porque a diminuição da imunidade gera melhora nesses indivíduos. Existem algumas contradições, nos artigos que a gente lê, que não se encontra uma comprovação científica. Até porque geralmente os sintomas que são referidos por pacientes podem estar sendo de efeito placebo.
Quais os riscos para quem utiliza dessa prática?
Quando essa prática não é realizada por profissionais que tenham domínio dessa técnica ela pode gerar uma inoculação de microorganismos, infecções, necrose tecidual, dermatite, enfim, vários problemas que podem acarretar malefícios. Ainda mais que a prática indica aplicação semanal, então você corre esse risco semanalmente.
Nesse caso, você concorda com essa prática?
Eu como pesquisador que sou, tenho que incentivar a pesquisa pois é importante sim, pra quem sabe no futuro a gente poder comprovar alguma coisa, mas no momento não se tem nada de grande valia. Como profissional da saúde meu papel é alertar. Até porque o Conselho Federal de Medicina e o Conselho Federal de Farmácia não conferem essa atribuição. Então não tenho como falar de benefícios quando não há comprovação científica.